Manipulação de inseticidas aumenta risco de perda auditiva

Pesquisa realizada em Pernambuco comprovou que a exposição a ruídos não é a única causa de problemas de audição e revela que, para preservar a saúde auditiva da população, é preciso também controlar o uso de substâncias tóxicas.

Pessoas que trabalham em campanhas de combate a mosquitos causadores de doenças, independentemente da exposição a ruídos, apresentam perdas auditivas decorrentes do contato com inseticidas. Isso foi mostrado na a dissertação de mestrado de Cleide Fernandes Teixeira, defendida no Centro de Pesquisas Ageu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz no Recife (PE) e publicada parcialmente em agosto último na Revista de Saúde Pública.

Na pesquisa foram investigados cerca de 100 homens que, trabalhando no distrito sanitário de Vitória de Santo Antão (PE), lidavam com inseticidas há pelo menos três anos. Cerca de metade deles aplicava os produtos manualmente, usando, por exemplo, bisnagas plásticas. Os outros faziam a aplicação com aparelhos barulhentos, como aqueles acoplados a automóveis.

“Dos expostos apenas aos inseticidas, 63,8% apresentaram perda auditiva. Para o grupo com exposição concomitantemente aos inseticidas e ao ruído, a perda auditiva foi de 66,7%”, diz a publicação. Não houve diferença estatisticamente significativa na quantidade de trabalhadores com problema de audição em cada grupo, mas a intensidade da perda auditiva foi maior nos homens expostos tanto a inseticidas quanto a ruído. Os resultados da pesquisa também mostram que o risco de perda auditiva tendia a ser maior para os trabalhadores expostos aos inseticidas há mais tempo.

Muitos dos trabalhadores estudados afirmaram sentir irritação nos olhos, dor de cabeça e tonturas, sendo que cerca de um quinto deles disse já ter sofrido intoxicação. Quanto a sintomas relativos a distúrbios no sistema nervoso central, 24% dos trabalhadores mencionaram problemas para manter a atenção, 43% afirmaram não conseguir lembrar alguns fatos e 46% relataram dificuldades em compreender o que se fala.

Apenas 35% dos trabalhadores investigados relataram usar algum tipo de equipamento de segurança no serviço. Além disso, no artigo, as pesquisadoras dizem que “os hábitos de higiene no final do dia de trabalho foram considerados inadequados: 80% dos participantes não tomavam banho antes de irem para casa e apenas 19% disseram trocar de roupa”.

Os resultados da pesquisa revelam que “exposições químicas devem ser monitoradas e controladas como parte do esforço para prevenir a perda auditiva”, afirmam as pesquisadoras no artigo. “Trabalhadores com exposição a substâncias químicas neurotóxicas devem ser incluídos em programas de conservação auditiva, independentemente da exposição ao ruído”, concluem.
(Agência notisa)

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