Maldição das secretárias

Uma secretária ofendida em seus brios, um ajudante administrativo boquirroto ou um motorista indiscreto. O risco mostrou-se crucial no processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor, e até nesse particular o deputado Roberto Jefferson, figura exponencial dos acontecimentos daquela época lamentável, parece estar contando com ventos favoráveis.

O publicitário mineiro Marcos Valério de Souza, acusado de intermediar o pagamento do mensalão e de transportar o dinheiro em malas enormes, segundo a revista IstoÉ Dinheiro, conforme diz em entrevista a ex-secretária da agência SMP&B, Fernanda Karina Ramos Somaggio, dava ordens para a retirada da preciosa bagagem do Banco Rural. O dinheiro seria usado para comprar a estrita obediência dos deputados da base de sustentação do governo Lula.

Roberto Jefferson, sempre ele, também é o autor dessa referência que amplia sobremaneira a pretensa aura da ilicitude que vinha ocorrendo nessa espécie de contubérnio entre o governo e partidos aliados. E, de repente, aparece uma ex-secretária demitida com informações verossímeis sobre a retirada de altíssimos valores do Banco Rural, o detalhe da mala é precioso, para serem distribuídos pelo patrão.

No final de 2003, Karina diz ter presenciado a entrega de R$ 100 mil em espécie a um irmão do ex-ministro dos Transportes do governo Lula, Anderson Adauto. Da mesma forma, citou viagens a Brasília de Marcos Valério e Delúbio Soares, tesoureiro do PT, em jatinhos executivos do Banco Rural. As viagens, segundo a ex-secretária, eram destinadas a atividades lobísticas no Congresso Nacional.

Bem-informada, a moça acrescentou que as viagens tinham também o escopo de blindar o falecido ex-presidente do Banco Rural José Augusto Dumont, nas investigações da CPI do Banestado. Karina deve ter dado a entender a seu ex-patrão o

quanto sabia, tanto que este a está processando por chantagem.

Como se percebe, um cenário recorrente nesses romances oportunistas escritos para se transformar, de imediato, em filmes de rentável bilheteria. O fator agravante aqui, entretanto, é que o País está à mercê de deslavada pilhagem, embora os corsários de agora se desloquem em jatos, usem laptops e telefones celulares. O dinheiro, esse continua sendo levado nas malas.

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