Mais milionários

Ser milionário no Brasil não depende só do tamanho da conta bancária e do volume de investimentos que se tem, mas também da veneta de nossos governantes, que, vez ou outra, ou deixam a inflação subir às nuvens ou derrubam a moeda corrente e inventam outra. Isso faz com que o milhão que é preciso ter seja maior ou menor, conforme as circunstâncias. Daí porque é de uso e costumes dos estatísticos que identificam com quem ficam as maiores fatias de riqueza utilizarem moedas fortes, mais estáveis e livres do bom ou mau humor dos governos e das discutíveis políticas econômicas que adotam.

Em geral, utiliza-se o dólar como moeda-base. A moeda norte-americana sempre foi forte e estável, mas nos últimos tempos está sofrendo de surtos de tísica e já não merece a mesma confiança. Não obstante, o mais recente estudo da respeitada empresa internacional de auditoria Merrill Lynch ainda usou o dólar e revelou que no Brasil, de 2004 para 2005, o número de milionários aumentou nada menos de 11,3%. Eles eram 98 mil em 2004 e passaram a ser 109 mil em 2005.

O estudo considera milionário quem possui mais de US$ 1 milhão, o que equivale a aproximadamente R$ 2,12 milhões, além da própria residência. Considerando-se a população do Brasil, que já está pelos 183 milhões de habitantes, o número de milionários nossos conterrâneos não é lá essas coisas. Não entusiasma, por exemplo, a sonhada redistribuição de riquezas ou repartição mais igualitária do bolo, como pretendem algumas correntes ideológicas. Dividir o dinheiro de tão poucos milionários com a imensa população que nada ou quase nada tem, faria com que todos ficássemos pobres.

Isso lembra um fato ocorrido antes de 1946, na Câmara dos Deputados. Um deputado paulista, milionário porém comunista, era freqüentemente apoquentado por seus pares, que não entendiam o paradoxo: um homem tão rico pregar uma ideologia igualitária. Quando o parlamentar comunista milionário fazia um de seus discursos, um adversário político repetiu pela undécima vez o mesmo aparte: ?Vossa Excelência, que é um milionário e se diz comunista, porque não divide com o povo sua fortuna?? O deputado aparteado interrompeu seu discurso, pôs a mão no bolso e tirou uma nota de dinheiro e respondeu: ?O Brasil tem, atualmente, cerca de 50 milhões de habitantes. Minha fortuna é calculada em 50 milhões de cruzeiros. Portanto, pega aí o seu um cruzeiro e não me encha mais o saco!?

O estudo da Merrill Lynch, o décimo que realiza, é mundial. Ele identifica o número de milionários aqui e em outros países. Aí surge um dado intrigante. Os países onde o número de milionários mais cresceu, no período abordado, foram Coréia do Sul (21,3%), Índia (19,3%) Rússia (17,4%) e Brasil. No mundo inteiro, a quantia de dinheiro em poder dos milionários atingiu os US$ 33,3 trilhões (70,7 trilhões de reais), com um crescimento de 8,5%, bem menor do que se verificou no Brasil.

E note-se que, à exceção da Coréia do Sul, país de apreciável desenvolvimento econômico, os demais são países pobres. Inclusive a Rússia, que só é admitida no clube dos países ricos por condescendência de seus membros e considerações por seu passado, poder militar e político.

E o Brasil, como se justifica o aumento do número de milionários? Tem um governo ?socialista?, pratica uma política econômica neoliberal e uma política tributária que lhe faz merecer o título de campeão mundial na cobrança de impostos. E impostos são um dos melhores instrumentos de distribuição de riquezas.

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