Mãe do Rocio: a padroeira do Paraná

Jesus sabia que as estórias são o caminho para o coração. Por isso, contava parábolas. As parábolas de Jesus eram sempre envolvidas com situações da vida daquela época. Maria, a Mãe de Jesus, aprendeu com Ele a se fazer história em nosso meio. É assim que ela se apresenta ao mundo, sempre envolta por uma história e dessa história fazem parte todos os seres humanos. Os católicos amam Maria porque ela sabe ser como nós; faz parte de nossa história e se faz história conosco nos mostrando como chegar a Deus.

Dentre tantos, temos relatos de como Maria ficou conhecida como a Senhora do Rocio. Duas histórias básicas envolvem esse título. São duas histórias, mas uma só fé. O primeiro desses relatos nos fala que a costeira da então pequena Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá era habitada por humildes pescadores, que viviam do que o mar lhes dava nas noites calmas daquele lugar. Vendiam parte da pesca e o restante deixavam para o sustento da família.

Era, então, o mês de novembro; estavam em pequenas canoas ao largo da baía de Paranaguá à espera de uma boa pescaria. Como naquela noite a pescaria estava fraca, os pescadores olhavam e admiravam as estrelas do céu quando, de súbito, viram que descia do céu um facho luminoso que findava numa moita de rosas plantadas no pequeno jardim de um casebre, ao lado da baía, e ali desaparecia. Voltando para terra firme, muitos falavam que seria um bom aviso; outros, que aquilo era o prenúncio de grandes males.

Resolveram que, para evitar esses males, iriam destruir aquela moita de rosas, que chamavam de “Rosas Loucas”. Foi quando, num domingo de manhã, munidos de facões e foices se atiraram contra as rosas e começaram a devastação. Quando estavam na metade do trabalho, depararam-se com uma pequena imagem da Virgem Mãe de Deus, bem no lugar onde apareceu o facho luminoso. Ali, ergueram pequena capela, coberta de palha, e todos os domingos rezavam o terço.

A noticia se espalhou e a curiosidade do povo não se fez por esperar: a princípio para ver, depois para crer. Os anos se passaram, a devoção aumentou, uma nova igreja foi construída naquele local, os milagres aconteceram, até chegar a nossos dias. A imagem ficou conhecida como Mãe do Rocio, pois se acredita que o sereno da noite (o rocio) trouxe para nós a Mãe de Jesus.

Essa história da moita de rosas nos faz lembrar de que Deus, ao criar o mundo, o criou como um grande jardim (Gn 2,8), e terminado o trabalho, diz a leitura, o Criador descansou e se entregou ao puro prazer de admirar a sua obra. Deus ama os jardins e Nossa Senhora do Rocio, instruída por Ele, quis se fazer conhecida a partir de pequeno e humilde jardim, o jardim da nova criação na fé em Jesus por meio de sua Mãe do Rocio.

A segunda história nos fala que a imagem milagrosa de Nossa Senhora do Rocio foi encontrada no mar, nas malhas da rede de um pescador, em meados do século XVII, conhecido como Pai Berê, que morava à margem do mar, na baía de Paranaguá. Ao perceber que era a imagem da Mãe de Deus, Pai Berê a levou até seu pequeno casebre onde, toda primeira quinzena de novembro, rezava o terço em honra a Santa Virgem. O culto se espalhou e começou a atrair devotos que vinham de longe para rezar e pedir a interseção da Mãe de Deus sobre o título de Nossa Senhora do Rocio.

Lembramos que os discípulos de Jesus eram, em sua maioria, pescadores, e foi assim que se tornaram pescadores de homens. A Mãe de Deus também quis ser encontrada por um pescador para, por meio dele, pescar as almas que necessitam de Deus no tão querido estado do Paraná e, por que não dizer, em tão grandioso e sofrido Brasil. As duas histórias relatadas interagem humildes pescadores, seres humanos que buscam viver com Deus por meio da fé e da presença materna de Maria. Pescadores que pareciam não ter nada a oferecer ao mundo, mas acabaram, com sua fé, oferecendo a própria Mãe de Deus. É oportuno lembrar que os desígnios de Deus são insondáveis, misteriosos e cheios de amor. Foram esses desígnios que criaram essa história de amor e fé pelo Paraná, na pessoa de Nossa Senhora do Rocio.

Gélson Luiz Mikuszka é padre redentorista, filósofo e bacharel em teologia.

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