Lula toma posse nos braços do povo

Em seu discurso de possena Câmara, Lula disse que as linhas mestras do seu governo reafirmando todos os seus compromissos de campanha e após a eleição. Ele reiterou sua ênfase no combate à fome, reafirmou a intenção de retomar o crescimento econômico por meio de reformas constitucionais e de incentivos à produção. Um longo trecho do seu discurso, de 42 minutos, foi dedicado à Política Externa do seu governo. Lula tratou tanto da relação do Brasil e com os organismos multilaterais internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) quanto do papel do país frente à América Latina.

“Mudança é a palavra chave”, iniciou o presidente ao reafirmar seu discurso logo após a sua vitória eleitoral em 27 de outubro. “A esperança finalmente venceu o medo”, repetiu Lula, atribuindo essa afirmação ao resultado das urnas. Segundo ele, a sua escolha ocorreu diante dos impasses que o país enfrenta como a ameaça à soberania nacional, a precariedade avassaladora da segurança pública, diante do impasse econômico, “a sociedade brasileira escolheu mudar e escolheu ela mesma promover a mudanças necessária”. “E foi para isso que o povo brasileiro me elegeu presidente”, disse Lula.

O presidente afirmou no entanto que pretende fazer essas mudanças com “coragem e cuidado”, “humildade e ousadia” para assegurar uma mudança “gradativa e continuada”. “Mudança por meio do diálogo e da negociação sem atropelos ou precipitações para que o resultado seja consistente e duradouro”, sentenciou o presidente empossado.

Lula afirmou que o Brasil é carente de planejamento estratégico e segundo ele será preciso “paciência e perseverança” para manter sob controle as “muitas e legítimas ansiedades sociais para que elas possam ser atendidas no ritmo adequado e no momento justo”. “Ninguém pode colher os frutos antes de plantar a árvore”, disse o presidente, ilustrando a forma pela qual pretende promover as mudanças do país.

Combate à fome

Lula disse que pretende mobilizar o Brasil para enfrentar o combate à fome da mesma forma como a sociedade brasileira lutou pela criação da Petrobrás ou pela redemocratização do país. “Desejo convocar meu povo para um mutirão nacional contra a fome”. Para mostrar a importância que quer dar ao tema em seu governo disse que o Brasil gerou riquezas nos vários ciclos históricos desde a sua colonização até a sua industrialização, “mas não venceu a fome”: “isso não pode continuar assim”, sentenciou o presidente. “Enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos motivos de sobra para nos cobrir de vergonha”, afirmou.

Reforma Agrária

Lula anunciou que pretende fazer uma reforma agrária “pacífica, organizada e planejada”, “em terras ociosas” para que os campos do Brasil produzam alimentos. Salientou a importância da agricultura, desde a familiar até a empresarial como importantes para o desenvolvimento do país. Por isso pretende estabelecer linhas de crédito e assistência técnica e científica para a execução da reforma agrária, “sem afetar as terras que produzem”.

Pacto social

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o pacto social é necessário para o “entrelaçamento entre trabalho e capital produtivo”. Segundo ele, é o pacto que viabilizará as reformas com as quais ele se comprometeu: reforma da previdência, reforma tributária, reforma política e reforma da legislação trabalhista, além da reforma agrária. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social será o instrumento para o pacto, disse o presidente, anunciando sua instalação a partir de janeiro. Segundo Lula, o pacto social permitirá que o país “supere a estagnação atual”. “Para que o país volte a navegar no mar aberto do desenvolvimento econômico e social.”

Corrupção

O presidente reafirmou em seu discurso o combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública. “Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência.” Segundo o presidente, “ser honesto é também aplicar com eficiência, transparência e sem desperdícios os recursos públicos focados em resultados sociais concretos”.

Lula foi longamente aplaudido quando defendeu a democratização das relações internacionais e manifestou-se contrário à hegemonia, numa citação implícita à política norte-americana com o Oriente Médio: “As relações do Conselho de Segurança (da ONU) devem ser fielmente cumpridas. Crises Internacionais como a do Oriente Médio devem ser resolvidas por meios pacíficos e pela negociação”.

Depois da cemônia no Congresso, Lula foi ao Palácio do Palnalto, onde recebeu a faixa presidencial das mãos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois da transmissão, ambos ouviram o Hino Nacional. Após 40 anos, essa é a primeira vez que um presidente eleito passa a faixa a um sucessor também eleito pelo voto direto.

Os óculos de Fernando Henrique caíram quando ele passou a faixa presidencial a Lula. O próprio petista se abaixou para pegar os óculos e devolvê-los a FHC enquanto recebia a faixa do antecessor.

Uma inovação da cerimônia foi a tradução simultânea do hino brasileiro para a linguagem dos surdos-mudos, feita por uma mulher presente no parlatório. O hino foi executado pela banda da Guarda Presidencial, logo depois da troca de faixa.

Enquanto FHC deixava o Planalto, Lula empossava seus ministros, dando continuidade à cerimônia. Depois, o novo presidente discursou no parlatório e desfilou em carro aberto entre a multidão que tomou conta da Esplanada dos Ministérios.

Voltar ao topo