Apesar dos protestos e manifestações dos últimos dias e repetindo o discurso feito na cerimônia de apresentação dos oficiais promovidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje, mais uma vez, na primeira entrevista coletiva no cargo, que, "com carinho", tentará encontrar um jeito de dar um reajuste para os militares, "mas dentro das possibilidades do nosso orçamento".

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Lula, no entanto, não se comprometeu com o pagamento de nenhum tipo de aumento para a categoria e nem fazer novas promessas. Antes de deixar o Ministério da Defesa, o ex-ministro José Viegas anunciou 10% de elevação salarial em setembro, avisando que os 23% restantes seriam pagos até o fim do primeiro trimestre deste ano.

"Às vezes, a gente é obrigado a dizer para um filho da gente, que está reivindicando alguma coisa, que a gente não pode dar aquela coisa", comparou o presidente, para justificar o não-atendimento da reivindicação. "Da mesma forma que eu tenho, às vezes, de dizer que não posso dar tudo que o meu filho deseja eu tenho de dizer à sociedade brasileira que, muitas vezes, a gente não pode fazer tudo que a gente gostaria de fazer, mas o que nós estamos fazendo é o máximo que a gente pode fazer", disse, acrescentando que tem certeza de que serão "criadas as condições" para melhorar a vida, tanto dos militares como dos civis no País.

As declarações de Lula surpreenderam e decepcionaram os líderes. "Quando ele compara a reivindicação dos militares com os pedidos dos filhos, o presidente deu um recado claro que não vai conceder o reajuste porque não estamos pedindo aumento, mas reajuste", afirmou a presidente de uma das associações de mulheres de militares, Ester Araújo.

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"Foi uma decepção, mas acho que o presidente Lula precisa ser mais aberto e mais objetivo porque, se não pode conceder o que prometeu, que pelo menos apresente uma proposta, que parcele, mas que dê alguma coisa e logo", declarou, ao avisar que as mulheres voltarão a se mobilizar pelo acréscimo.

"Vamos continuar perturbando muito", avisou, ao lembrar que as mulheres dos militares pediram audiência com o presidente, que atende todas as categorias no Planalto, até modelos, mas não as representantes da família militar.

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Tentando mostrar que se empenha em busca de melhoria salarial para os funcionários públicos federais, Lula lembrou o que havia dito às autoridades militares promovidas: "Nós vamos trabalhar e estamos trabalhando, fortemente, para que a gente contenha o déficit, sobretudo na Previdência Social, para ver se a gente consegue ter uma parte do dinheiro, que de uma parte seja feito investimento e de outra a gente possa repor parte dos salários."

Em seguida, ele deu a entender que a defasagem salarial reivindicada agora, de 35%, é irreal, ao observar que, dificilmente, uma classe que acumula uma perda de 40%, 50%, como habitualmente, acontece no Brasil consegue reverter a situação.Diante do compromisso do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, de conversar com Lula sobre este tema, as mulheres suspenderam o acampamento que faziam na Esplanada dos Ministérios, alertando que voltarão a se movimentar em 15 dias, se não obtiverem sucesso na investida. A pressão das mulheres levou o debate para o Congresso, onde inúmeros discursos foram feitos em favor da melhoria salarial e reaparelhamento das Forças Armadas.

O presidente elogiou, mais uma vez, o trabalho prestado pelos militares à sociedade e lembrou os tempos de sindicalista por causa da reclamação. Lula citou uma frase antiga, de um ministro ainda do regime militar, quando ele fazia as suas reivindicações no Grande ABC (SP).

"Ele disse que todo trabalhador que se contentar com aquilo que ganha, talvez, não mereça o que ganha. Isso ele dizia no estímulo de que era necessário brigarmos cada vez mais porque o aumento de salário só é importante para nós no primeiro mês em que recebemos", observou, ao dizer ainda que, no segundo mês que se recebe uma ampliação salarial, entra no orçamento, no terceiro mês, então, nem nos lembramos mais que tivemos aumento de salário e isso vale para os militares, para os servidores, isso vale para os servidores civis, vale para os trabalhadores da iniciativa privada."