Lula e Requião

Impossível não ligar o nome do novo governador do Paraná, Roberto Requião, com o do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Eles mantêm velha amizade, confessa simpatia e similaridades ideológicas que não surgiram agora, no calor da campanha, mas vêm de muitos anos. Requião sempre foi “lulista” e Lula foi pró-Requião, o que disse via meios de comunicação, no calor da campanha eleitoral. Requião sempre quis uma aproximação maior entre o “seu PMDB”, que não é o de todos os peemedebistas, mas reúne a parcela mais aguerrida da agremiação de Ulisses Guimarães, e o Partido dos Trabalhadores. Por isso, trabalhou por motivos, se não ideológicos, pelo menos programáticos.

Diferem, entretanto, os dois políticos. Não no essencial, em termos ideológico-programáticos, e sim na origem. Requião pertence à tradicional família paranaense, diz-se que com um pé, lá atrás, no Nordeste. Foi líder universitário e é bacharel em Direito e Jornalismo. Lula chegou ao Sul de pau-de-arara e, como confessou sem saudades, mas justificado orgulho, tomou café pela primeira vez aos 8 anos de idade. Passou fome e não foi por luxo de freqüentador de spa, mas por pertencer à camada dos excluídos da nação brasileira. Nela se incluiu na luta como operário e líder sindical, revelando qualidades políticas inatas que dispensaram o berço e os diplomas universitários.

No PT encontraremos muitos Requião, homens de diplomas, cultos, doutores e no PMDB de Requião, que não é o de Michel Temer, muitos Lula. A ideologia e a programática os unem. A luta pela questão social os coloca na mesma trincheira. Há quem veja, desde logo, vantagens evidentes para o Paraná no governo Lula, pois temos um governador amigo e politicamente afim com o presidente. Diante da escassez de recursos que dificultará Lula, as prioridades paranaenses, em igualdade de condições com as de outras unidades da federação, certamente serão vistas com simpatia. Haverá fluidez no diálogo entre as duas autoridades.

Lula não vai governar como Benedito Valadares: “Aos amigos tudo; aos inimigos, a lei”. Terá a sabedoria política de, sem privilegiar, atender o justo que os verdadeiros amigos e “companheiros” reivindicarem. Isso não nos leva à cômoda situação de clientes do poder central, mas a de partícipes de suas lutas; colaboradores de seus pleitos e integrantes de seu difícil pacto social. Temos de pedir, mas também muito que dar.

Nos discursos de posse de Lula e Requião ficou muito claro que o governador do Paraná é, nas questões programáticas e na análise crítica de seu antecessor, Jaime Lerner, um crítico muito mais severo que Lula em relação a FHC. Requião é adversário político de Lerner há cerca de três décadas. Há pouco mais de 10 anos Lula ombreava-se no palanque das diretas-já com Fernando Henrique Cardoso. Um líder sindical e um intelectual, ambos de esquerda, ambos contra a ditadura militar, um ex-preso e outro exilado. Sua amizade, ou pelo menos lutas comuns, vem de décadas. Mesmo discordando nos últimos anos e se combatendo sem tréguas, restaram laços de respeito mútuo que cimentaram uma das mais bonitas transições que a democracia já propiciou, em todo o mundo.

O que pareceu claro, entretanto, nos pronunciamentos de ambos, e talvez nem essas relações conflitantes e confluentes expliquem, é que Requião mostra-se mais radical que Lula. Seguem no mesmo rumo, mas aqui a briga deverá ser mais renhida.

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