Lula e a social-democracia

A imprensa nacional distribuiu reportagem, neste final de semana, noticiando que o PT está cada vez mais próximo da social-democracia européia. Tanto que, com as bênçãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a prefeita Marta Suplicy será a anfitriã do 22.º Congresso da Internacional Socialista, marcado para os dias 27 a 29 deste mês em São Paulo.

Nada mais natural que essa aproximação tenha ocorrido, considerando-se a linha ideológica e a orientação político-administrativa que o governo do PT assumiu nesses quase dez meses de mandato. Nacional ou internacionalmente, o governo Lula adota uma postura cada vez mais próxima das sociais-democracias, sobretudo dos dois países que possuem economias com poder de fogo semelhante ao Brasil: Portugal e Espanha.

Já não é de hoje que o PT renunciou à condição de partido socialista para assumir um perfil mais alinhado com a centro-esquerda. Essa mudança de identidade se consolidou quando o PT assumiu o Palácio do Planalto, alçando ao poder militantes das alas mais moderadas da legenda, especialmente a Articulação, a corrente majoritária do PT, à qual pertencem as principais estrelas do partido, como o próprio Lula, José Dirceu (ministro-chefe da Casa Civil) e José Genoino (presidente nacional da legenda).

O mesmo movimento vem sendo executado por tradicionais partidos de esquerda trabalhistas europeus, como na Inglaterra e na Alemanha. Portanto, a aproximação do PT à social-democracia européia é, antes de mais nada, uma questão de coerência do atual governo, que vem demonstrando estar seriamente preocupado em evitar o seu isolamento no plano internacional.

Ocorre que essa passagem possui implicações políticas de difícil superação para o Palácio do Planalto. A principal delas é, com certeza, a necessidade urgente de o governo adotar uma política social eficiente, como a que já existe nas verdadeiras social-democracias européias, o que ainda parece longe de acontecer. Ao menos por enquanto, o governo está mais preocupado em garantir a obtenção de sucessivos superávits primários na balança comercial para cumprir as metas do FMI (Fundo Monetário Internacional) que em direcionar a máquina pública para a ampliação dos benefícios sociais. Se essa posição é compreensível do ponto de vista administrativo, é injustificável do ponto de vista estritamente político, já que contraria a história do PT.

Basicamente, o que o governo precisa fazer para se tornar verdadeiramente social-democrata, seguindo os moldes europeus, é deslocar o eixo das suas ações da esfera econômica para a política. Na prática, isso significa não se preocupar apenas em desenvolver programas sociais emergenciais (como o Fome Zero), mas sobretudo em pensar e executar políticas de investimentos consistentes de médio e longo prazos para reduzir as desigualdades sociais. É o que esperamos que este governo faça, o mais rapidamente possível.

Aurélio Munhoz  

(politica@parana-online.com.br) é editor-adjunto de Política de O Estado e mestrando em Sociologia Política pela UFPR.

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