Lula diz que não põe nenhum dedo no câmbio

Sertãozinho – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou ontem a possibilidade de o governo agir para conter a queda do dólar. E procurou fazer isso de forma clara, pondo fim às incertezas que ele próprio despertou, ontem, quando disse não querer que a moeda americana caísse demais por causa das perdas dos exportadores. “O governo não vai meter o dedo na questão do dólar”, discursou, ao inaugurar termoelétrica da Companhia Energética Santa Elisa, em Sertãozinho (SP).

Lula reafirmou que o câmbio continuará flutuante e que a função do governo é deixar a cotação nas mãos do mercado. “O papel do governo é afirmar a todo e qualquer momento que a lógica nossa é que o dólar vai continuar flutuante e quem determina o seu preço vai ser o mercado”, disse, negando haver um determinado valor de cotação que considere mais “simpático” ou “bonito”.

“De vez em quando vejo gente dizer: ?Ah, seria bonito que ele (o dólar) fosse a R$ 3,60, seria bonito que fosse a R$ 3,20?”, discursou. “Dólar bonito para nós é quando ele atingir um patamar de estabilidade e a gente puder trabalhar o ano inteiro sabendo que o dólar vai estar estável e que nós vamos poder fazer nossos negócios sem medo da oscilação da moeda.”

Motivo de comemoração nos primeiros quatro meses de governo, a queda do dólar é citada por Lula, juntamente com a redução do risco país e a diminuição do preços dos combustíveis, como sinal de acerto de sua política econômica. Hoje, ele aproveitou para criticar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que manteve o real sobrevalorizado em seu primeiro mandato.

“Passamos quatro anos alertando o ex-presidente da República que era preciso mudar a política cambial porque não era verdade que o dólar valia R$ 1,00”, discursou. “Quase quebramos o nosso País por conta dessa teimosia.”

Para Lula, a preocupação com a queda do dólar é “irônica”. Afinal, antes de ser eleito, o receio geral, e bastante explorado por seus adversários, era de que a cotação da moeda americana explodisse com sua vitória. “Quando ganhamos as eleições, alguns, mais pessimistas, diziam que o dólar ia chegar a R$ 5. E vejam que tomamos posse com o dólar a R$ 4 e com o risco Brasil acima de 2 mil pontos”, disse o presidente, aproveitando para responder aos antigos críticos: “Ao contrário do que os pessimistas falavam, o dólar está caindo. Agora, ironicamente, a gente vê o quê? Um grupo de companheiros que exportam querendo que o dólar não caia muito. Do outro lado, companheiros que importam querendo que o dólar caia.” Lula estava acompanhado dos ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) Dilma Rousseff (Minas e Energia) e José Graziano (Segurança Alimentar).

Risco Brasil cai abaixo de 800 pontos

São Paulo – O risco Brasil recuou ontem para abaixo de 800 pontos pela primeira vez em um ano. Pela manhã, o indicador já etava em 780 pontos básicos, com queda de 4,41%. Esse é o seu menor valor desde 23 de abril de 2002. Em um mês, a baixa supera 26%. O risco-país serve como termômetro para a confiança dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil e consiste na diferença entre a taxa de remuneração paga pelos títulos da dívida dos Estados Unidos, considerados os mais seguros do mundo, e os brasileiros.

O dólar ontem andou na contramão do restante do mercado e fechou o primeiro dia útil de maio com alta de 1,82%, cotado a R$ 2,960 na compra e R$ 2,965 na venda. O volume de negócios ficou acima do esperado para uma sexta-feira pós-feriado, mesmo com o esvaziamento do mercado no período da tarde. A moeda americana interrompeu a seqüência de quatro quedas consecutivas no mesmo dia em que o C-Bond bateu novo recorde histórico e o risco-país rompeu o patamar dos 800 pontos-base.

A bolsa de valores de São Paulo fechou o dia com uma alta de 2,01% em relação a quarta-feira, e com o indicador dos principais negócios, Bovespa, fixando-se em 12.810 pontos. Este mesmo indicador fechou em baixa de 0,95% na quarta-feira. Na quinta-feira não houve operações por causa do feriado do Dia dos Trabalhadores.

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