Lua-de-mel

Pesquisas e estatísticas expressam verdades cambiantes e não raro imprecisas. Não é por nada que as primeiras geralmente são feitas por desempregados arregimentados para o emprego temporário de pesquisadores. E sobram estatísticos desempregados. Mas elas são importantes para orientar políticas que, eventualmente, podem estar seguindo caminhos diversos dos recomendáveis ou contrários ao que mostra a realidade. O governo Lula fez um mês e surgiram as primeiras pesquisas. Uma delas, da CNT/Sensus, leva à conclusão de que a lua-de-mel do presidente com a população deverá durar 1 ano e 10 meses. Técnicos do instituto que fez a pesquisa dizem que essa lua-de-mel dos governantes com o povo costuma durar em média só um ano. A de Lula teria mais 10 meses porque o povo é com ele mais tolerante, ciente das dificuldades que enfrentará. E diríamos, ainda, que resulta do fato de que chegou à chefia da nação com um amplo e entusiástico respaldo popular, inclusive daqueles que em pleitos passados não só não votaram nele, mas também o combateram.

Como a pesquisa foi feita em janeiro, o primeiro mês do novo governo, e porque nos primeiros trinta e um dias o ritmo foi de campanha, não faltando abraços, fotos, discursos e autógrafos, melhor reduzir o prazo para 1 ano e 9 meses. Fechando o primeiro mês de governo, foi lançado o programa Fome Zero, prioridade absoluta e marca registrada da administração Lula. Começa com entusiasmo e tropeços, por divergências em questões operacionais.

Os pesquisados não colocam o Fome Zero na frente da fila das prioridades, como o faz o presidente. Nem a reforma da Previdência, que para o Planalto está em segundo lugar. Muito menos a reforma tributária, que vem em terceiro. A reforma trabalhista é a mais importante das que compõem o quadro de prioridades do governo.

Por reforma trabalhista, os entrevistados querem dizer mudanças que propiciem a criação de empregos. Não é a reformulação da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT que priorizam, embora possam desejá-la na medida em que sua flexibilização, ou o que mais seja inventado, possa colaborar na criação de novos postos de trabalho. A prioridade para a população é o fim do desemprego, meta que, se fosse alcançada, resolveria desde logo o problema da fome e aliviaria os problemas que o Tesouro enfrenta sem uma profunda reforma previdenciária, já que no sistema atual tem de bancar larga parte das despesas.

Como a geração de empregos menos depende da reforma da legislação trabalhista e mais do desenvolvimento econômico, a satisfação da prioridade posta pela população pode demorar. Talvez além da prevista prolongada lua-de-mel. Não foi dado ainda nenhum passo consistente para ampliar os índices de desenvolvimento econômico do País, mesmo porque não houve tempo sequer para traçar estratégias com este fim. Pelo contrário, a necessidade de suspender diversos programas governamentais, por falta de dinheiro ou para diagnosticar a situação efetiva do governo, colaboram para o aumento do desemprego.

O sofrimento e a ansiedade dos desempregados e dos que temem o desemprego, que já vem de muito tempo, dificilmente ensejarão ao governo Lula uma lua-de-mel tão longa. Assim, as conclusões da CNT/Sensus revelam mais uma pesquisa que pode estar mostrando uma verdade cambiante. É melhor ter pressa, pois o divórcio pode acontecer antes de 1 ano e 10 meses.

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