Lista vermelha brasileira traz 638 espécies ameaçadas ou extintas

A nova lista da fauna brasileira ameaçada de extinção foi anunciada hoje, em Belo Horizonte, e traz 638 espécies, das quais 627 são consideradas ameaçadas, duas extintas na natureza e nove extintas. A relação foi elaborada por mais de 200 pesquisadores reunidos, desde segunda-feira, para analisar informações obtidas durante 11 meses de trabalhos e consultas à comunidades científica.

A última lista vermelha brasileira, publicada em 1989, apontava 218 espécies em extinção. Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rômulo Mello, um dos motivos do crescimento da relação foi a ampliação do processo de consulta. “A primeira lista, de 1973, foi feita por duas pessoas. Na de 1989, trabalharam cerca de 20 pessoas”, avalia.

Também contribuíram para o resultado a maior compreensão da dinâmica ecológica dos biomas nacionais, a inclusão de novos grupos, como invertebrados, a elaboração de listas estaduais e a descoberta de novas espécies. “A principal responsável pelo grande número de espécies ameaçadas, no entanto, continua sendo a alteração dos habitats naturais pela ação do homem”, diz Mello. Entre as pressões estão desmatamentos, queimadas, caça ilegal e captura de animais para o tráfico.

Encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ibama, a nova lista foi coordenada pela Fundação Biodiversitas em parceria com a Sociedade Brasileira de Zoologia, a Conservation International do Brasil e o Instituto Terra Brasilis. Os especialistas chegaram à relação a partir de uma lista inicial de 996 espécies pré-candidatas. O resultado final, de 638 espécies, será entregue ao Ibama, que deverá homologar e publicar no Diário Oficial da União ainda este ano.

Espécies

A lista de espécies ameaçadas é composta por 69 mamíferos, 153 aves, 20 répteis, 15 anfíbios, 165 peixes, 93 insetos, 21 invertebrados terrestres e 91 invertebrados aquáticos. Entre os extintos, estão duas aves, uma anfíbio, dois insetos e quatro invertebrados terrestres. A ararinha-azul e o mutum são as duas aves consideradas extintas na natureza, ou seja, só podem ser encontradas em cativeiro.

Entre os mamíferos ameaçados estão a preguiça de coleira  o tamanduá bandeira, o rato cacau, a cuíca de colete e o mico-leão de cara dourada. Continuam na lista, ainda, o muriqui (o maior primata da América), a Toninha (pequeno golfinho que ocorre no Sul e Sudeste do Brasil) e o peixe-boi marinho. Foram mantidas também aves como a jacutinga, papagaio-de- cara-roxa e arara-azul de lear, típica da caatinga.

Entraram na lista, entre os répteis, a jararaca ilhoa, que ocorre na Ilha da Queimada Grande, e a jararaca de Alcatraz, ambas de São Paulo, além da lagartixa da areia, que vive nos arredores da cidade do Rio de Janeiro. Entre os anfíbios, entraram duas espécies de sapo (Odontophrynys moratoi e Holoaden bradei) e a perereca de folhagem. Na relação de peixes ameaçados  os destaques são o peixe-serra – que ocorria da América do Norte até o Sudeste brasileiro e hoje está limitado aos Estados do Amapá e Maranhão -, o mero – um dos maiores peixes existentes -, e o cavalo-marinho.

Segundo o presidente do Ibama, porém, há também boas notícias, como a saída da lista de espécies como a harpia (a maior ave de rapina brasileira), a surucucu-bico-de-jaca e o pirarucu. “O ordenamento da pesca no Amazonas tem permitido a recuperação do pirarucu, mostrando a importância do manejo para a preservação das espécies.”

Outra espécie que saiu da relação foi o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). “Quando começamos o trabalho com o jacaré-de-papo-amarelo, no final dos anos 80, acreditava-se que a caça era o maior problema e que por isso estava ameaçado de extinção. No entanto, hoje sabe-se que a espécie é mais abundante do que se pensava e que o principal problema não é a caça, mas a perda de habitat, que torna as populações vulneráveis”, disse o agrônomo Luciano Verdade, do Laboratório de Ecologia Animal da Esco la Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que desenvolve desde 1988 manejo da espécie em cativeiro tem um convênio de cooperação técnica com o Ibama sobre o assunto.

Os critérios utilizados pelos especialistas para classificar as espécies são os adotados pela União Mundial para a Natureza (IUCN), referência mundial na elaboração das Listas Vermelhas. São consideradas evidências referentes ao tamanho populacional das espécies, a extensão de suas áreas de distribuição, o isolamento ou o declínio de suas populações.

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