Lições do labirinto

O conflito entre os EUA e o Iraque suscita uma grave reflexão sobre um tema que ganhou cada vez mais importância na agenda política mundial depois do fim da Guerra Fria, sobretudo nos últimos anos: a dominação política dos norte-americanos sobre as demais nações do planeta. Após a queda do Muro de Berlim e a decadência da União Soviética, no final dos anos 80, os Estados Unidos nunca assumiram postura tão hegemônica, nem tão prepotente, no cenário político internacional como agora.

É verdade que os EUA e as nações alinhadas a George W. Bush constituem um bloco minoritário em defesa deste novo conflito armado no Golfo Pérsico. Também é verdade que países e movimentos sociais organizados de todo o mundo têm manifestado posições críticas em relação ao tratamento dispensando pela Casa Branca ao governo de Saddam Hussein. Ocorre, porém, que estas duas variáveis têm se revelado frágeis e, por isso mesmo, incapazes de mudar a política externa dos EUA sobre o assunto. A poucas horas do início da guerra entre Estados Unidos e Iraque, só temos razões para temer pelo pior.

O problema é de extrema gravidade porque, quando for deflagrado, o conflito certamente trará consequências danosas à população mundial em pelo menos três planos, além do humanitário: econômico, diplomático e político. Sobretudo quando sabemos que a principal motivação da guerra são os interesses estratégicos dos barões das grandes companhias petrolíferas norte-americanas nas gigantescas reservas petrolíferas do Iraque, na manutenção do dólar como moeda-padrão para a definição da cotação do barril do petróleo, bem como no enriquecimento da indústria bélica que alimenta o arsenal militar norte-americano e que financiou a campanha presidencial de George W. Bush. No plano diplomático, a guerra só comprovaria o fracasso dos líderes mundiais como negociadores de paz.

Interessa-nos neste momento, porém, a discussão sobre os efeitos políticos do conflito. E eles são desastrosos. A decisão do governo dos EUA de deflagrar a guerra é uma postura autoritária, arrogante e isolada em nada compatível com o discurso de um país que se esforça por assumir a postura de bastião da democracia universal e paradigma da “política do consenso”. Afinal, não há democracia onde há intransigência. A política externa dos norte-americanos deve ser duramente contestada porque evidencia o seu desprezo pelo diálogo. Uma postura que nos leva a refletir sobre se o cenário político internacional de hoje é melhor que durante a Guerra Fria, quando pelo menos os EUA ainda enfrentavam seus rivais de igual para igual.

O cientista político italiano Norberto Bobbio é o autor de uma célebre frase sobre o longo processo de construção da democracia. “O que o labirinto ensina não é onde está a saída, mas quais são os caminhos que não levam a lugar algum”, diz ele. Esperava-se que, depois das antológicas derrotas norte-americanas em Pearl Harbor e no Vietnã, os EUA tivessem aprendido as lições da guerra e entendido que o caminho das armas não leva a nada. A julgar pelas posições defendidas por George W Bush em relação ao conflito com o Iraque, porém, fica claro que a Casa Branca ainda não descobriu a saída do labirinto.

Aurélio Munhoz

é editor-adjunto de Política em O Estado do Paraná (politica@parana-online.com.br) e mestrando em Sociologia Política pela UFPR.

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