Rio de Janeiro – Cerca de 680 adolescentes infratores encontram-se presos em cadeias públicas no Brasil, em uma situação que contraria a legislação brasileira. O dado consta de um levantamento nacional inédito, concluído nesta semana pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, com base em informações repassadas por estados.

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Com 300 adolescentes presos em cadeias, Minas Gerais é o estado com maior número de jovens detidos de forma ilegal. Paraná, Goiás, Rondônia e Tocantins também figuram na lista de estados que cometem a irregularidade. Para a especialista em direitos da criança e do adolescente Maria Helena Zamora, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), a constatação é grave.

?Esse dado representa uma violação grave do direito do adolescente, não importando qual tenha sido o ato infracional, de ser apreendido em local especializado, onde se investiria na educação e na formação da sua cidadania, o que certamente foi falho no meio do caminho. O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe claramente que ele só pode ficar apreendido em uma instituição apropriada para isso?, afirmou.

O levantamento, obtido com exclusividade pela Agência Brasil, também revela que, nos últimos dez anos, o número de jovens cumprindo medidas socioeducativas em regime fechado ou semi-aberto quase quadruplicou no país, passando de 4.245, em 1996, para 15.426 neste ano.

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O grande número de condenações de adolescentes faz com que exista hoje um déficit de 2.959 vagas no sistema socioeducativo brasileiro, a maior parte delas nos estados de Pernambuco (502), Rio Grande do Sul (418), Paraná (404) e Minas Gerais (300).

Para a subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, a explosão do número de jovens internados no país é resultado de uma demanda maior da sociedade por punições mais rigorosas aos infratores. E, segundo ela, a Justiça acaba acompanhando essa tendência.

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Carmen também destaca a falta de investimento em medidas alternativas, as chamadas medidas de meio aberto, como a prestação de serviços à comunidade. ?Esse crescimento nos sugere que há uma cultura de aprisionamento ainda muito forte. A internação hoje deixou de ser aquilo que o Estatuto da Criança e do Adolescente preconiza, que é ser uma medida excepcional e de breve duração?, disse.

De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, as prefeituras devem assumir a responsabilidade do acompanhamento das medidas de meio aberto, para que elas tornem-se mais eficazes e criem uma alternativa para as medidas de internação. Hoje, 60% das capitais brasileiras ainda não fizeram a municipalização.

Apesar de ter reduzido o número de jovens internados, São Paulo ainda é o campeão em número de adolescentes cumprindo medidas em regime fechado ou semi-aberto, com seis mil, ou seja, 39% do total no país. O Rio de Janeiro passou o Rio Grande do Sul e hoje está em segundo lugar, com 1.159 internos em unidades fechadas ou de semi-liberdade.