Justiça intima ex-presidente da Varig a prestar depoimento

A Justiça do Rio intimou hoje o ex-presidente da Varig, Marcelo Bottini, a prestar esclarecimentos sobre o favorecimento de cerca de 20 executivos do alto escalão, suspeitos de receber indenizações trabalhistas antes de serem demitidos.

A investigação é do Ministério Público do Trabalho (MPT), que já tem provas e documentos oficiais da Varig comprovando o pagamento de até R$ 150 mil a apenas um gerente na gestão de Bottini. Já os 9 mil trabalhadores que foram demitidos, a partir de julho do ano passado, ainda não receberam salários atrasados. A dívida é estimada em R$ 150 milhões.

"Embora não haja nada formal sobre isso (favorecimento) no processo (de recuperação da Varig), eu me adiantei em virtude das notícias gravíssimas sobre o assunto", afirma o juiz Paulo Roberto Fragoso, integrante da comissão de juízes responsável pela recuperação judicial da Varig. Segundo ele, a Justiça quer apurar a movimentação financeira da Varig no período em que houve a antecipação de indenizações trabalhistas.

Chamou a atenção do MPT pagamentos que teriam sido realizados antes do leilão da empresa, ocorrido no dia 20 de julho de 2006. Caso Bottini não seja encontrado, o gestor judicial da Nordeste (Varig antiga), Miguel Dau, deverá indicar quem pode fornecer as informações solicitadas. O objetivo é encontrar os responsáveis pelos pagamentos. Bottini está trabalhando na Aerolíneas Argentinas, em Miami. Procurado por telefone e por e-mail, o ex-presidente da Varig não retornou até o fechamento desta reportagem

O favorecimento a diretores e gerentes da Varig veio à tona por meio de denúncias de funcionários. A presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, diz que em agosto teve uma reunião com o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 1ª Vara empresarial do Rio, e com representantes da Deloitte para relatar as irregularidades. "Foi preciso o Dau entrar no circuito, um mês depois, para investigar e produzir o relatório" afirma Selma.

No dia 31 de outubro de 2006, Dau emitiu um relatório a Ayoub constatando que "diversas situações foram observadas e estão gerando descontentamento no quadro funcional, tais como: o privilégio de pagamento para um grupo de funcionários, que já foi objeto de um relatório preliminar a ser entregue ao administrador judicial (consultoria Deloitte)".

O relatório assinado por Dau observa, ainda, que houve "falta de informação sobre o critério utilizado na escolha das pessoas para fazer parte do quadro funcional da VRG (razão social da nova Varig). Segundo funcionários da companhia, os executivos privilegiados seriam ligados a Bottini. As irregularidades foram apuradas por meio de uma auditoria promovida por Dau, que em agosto do ano passado assumiu a Nordeste.

Uma terceira irregularidade foi registrada no relatório. De fevereiro a julho do ano passado, a Varig reteve Imposto de Renda dos funcionários no valor de R$ 28,6 milhões, "sem o devido recolhimento".

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