A juíza Rosane Portella Wolff, da 3ª Vara Cível de Chapecó (SC), decretou hoje (29) a falência das empresas Indústria e Comércio Chapecó e Chapecó Companhia Industrial de Alimentos, alegando que o pedido de concordata feito pelos controladores da empresa em janeiro do ano passado, depois de uma crise que se arrastou por nove anos, foi "uma farsa".

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"Com clareza meridiana não resta dúvida de que o pedido de concordata é uma farsa. A situação das companhias era e é de total insolvência. No início informavam débitos de aproximadamente R$ 700 milhões, sendo que hoje já informam tratarem-se estes de aproximadamente R$ 1 bilhão!!", escreveu a juíza, em sua sentença.

Credor de cerca de 60% da dívida da rede de frigoríficos Chapecó, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social não se pronunciou a respeito. O banco, aliás, também foi alvo de críticas da juíza em seu despacho, que incluiu um minucioso cronograma da crise da empresa, iniciada em 1996.

A juíza acusa o BNDES de má condução do processo de reestruturação do grupo ao negociar, em 1997, as negociações do controle acionário da Chapecó com o grupo argentino Macri, do empresário Francisco Macri que, segundo destaca, já apresentava sinais de insolvência na Argentina, onde controlava os Correios.

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"Em agosto de 1999, o BNDES e o Grupo Macri firmam acordo (…) para assunção do controle da Chapecó (…) O acordo estipula igualmente a redução da dívida financeira de US$ 285 milhões para US$ 138 milhões (…) Apesar de o BNDES assumir o comando geral da empresa com o apoio direto do Banco do Brasil e do Banco Bozzano Simonsen no inicio de 1997, estes não lograram implementar as medidas gerencias suficientemente eficazes para sanar ou reverter a crise da empresa que, pelo contrário, agravou-se ainda mais", diz o relato da juíza.

Rosane Wolff frisa que, quando foi solicitada concordata no ano passado – a segunda pedida pela empresa – o pedido foi deferido por estar a Justiça "sensível às questões sociais que envolviam o caso". As concordatárias mencionavam que o pedido envolvia interesses de 4 mil empregados, 1.300 pequenos e médios credores, além de 22 instituições financeiras. Mencionaram projeto de reestruturação confiando na entrada em vigor da nova Lei de Falências, "dizendo que o nível de endividamento das empresas era desprezível, quando supunha-se que apenas a marca "Chapecó" deveria valer em torno de R$ 30 milhões".

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Além de não efetuarem o pagamento da concordata no tempo determinado, "por ocasião do aforamento da concordata, já haviam sido demitidos 4.600 funcionários das unidades, com o arrendamento de todas elas". A juíza lembra que, durante as tentativas de reestruturação do grupo, os controladores informaram que cerca de 90% dos créditos das instituições financeiras já teriam sido "perfeitamente equacionados mediante deságio fantástico, na ordem de 96,8%". Isto significava que o principal credor, o BNDES, havia concordado em reduzir a dívida "de R$ 255.681.777,60, para meros R$ 8.181.816,88, o mesmo ocorrendo com o Banco Bozzano Simonsen S/A e IFC – International Finance Corporation, que também dariam deságio de 96,8%".

"O plano de recuperação buscado é uma falácia, uma vez que não há o que recuperar, a proposta não é realista no contexto econômico em que se insere, hoje, as companhias. Na verdade, repito, as companhias, hoje, existem apenas no papel, consoante restou demonstrado pela perícia realizada", diz a juíza, na sentença.

Depois de auditorias detalhadas no grupo, foi verificado que a Chapecó acumula perdas diretas de R$ 1 bilhão, "que culminou com seu esfacelamento operacional e econômico-financeiro durante o ano de 2003, seguido por um estado pré-falimentar a partir do final daquele mesmo exercício".

Em sua extensa sentença, a juíza relata que os frigoríficos Chapecó, depois da passagem para o Grupo Macri, que abandonou a empresa e se retirou do País, entrou em "um caos devastador, com canibalismo entre os frangos provocando a morte de mais de 7 milhões de aves, problemas de saúde pública e intoxicação, problemas ambientais (…) Pasmem! Mais grave ainda foi o Sistema BNDES haver permitido que se processasse toda essa destruição", comenta.

Todas as tentativas de arrendamento do grupo, a mais recente delas envolvendo o grupo francês Dreyfuss, maior produtor e exportador europeu de aves, fracassaram devido ao enorme endividamento da empresa.

A Chapecó atuava em todo o mercado nacional e era uma forte exportadora para mais de 50 países em todo o mundo. A rede reunia oito unidades industriais, 5 mil empregados diretos e 3 mil produtores integrados, sendo a principal atividade econômica de sete municípios catarinenses.