Justiça condena BB a indenizar ex-funcionário

O Banco do Brasil (BB) foi condenado a pagar 1.100 salários mínimos ao ex-gerente Wellington Bertolin. Os oito desembargadores do 1.º Grupo de Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná negaram, por unanimidade, recurso que pretendia livrar o BB da condenação.

Na ação por danos morais, o ex-gerente provou que não teve participação na tentativa de assalto à agência da Rua Comendador Araújo, em Curitiba, em julho de 1994, quando quatro membros da família de Wellington foram seqüestrados. “Mais do que dinheiro, a sentença dos desembargadores significa uma reparação à minha honra e da minha família”, disse Wellington, emocionado. “Aos poucos, vou recuperando a dignidade.”

Os desembargadores seguiram o voto da relatora Regina Helena Afonso Portes. “Ficou comprovado que Wellington sofreu pressões do banco, pois houve desconfiança quanto à sua idoneidade moral, se havia ou não participação no referido assalto e, isso é o que basta para alguém de caráter ilibado sentir-se moralmente abalado”, diz o relatório da desembargadora. “Sem sombra de dúvida, isso veio atingir também sua família.”

O ex-gerente mudou de vítima a acusado para o BB. A despeito de ter sido inocentado em processo administrativo, passou a ser humilhado de diversas formas, segundo relatam documentos e depoimentos, na justiça do Paraná. Inspetores destacados para o caso levantaram suspeitas e as tornaram públicas.

Wellington transferiu-se para agência central, na Praça Tiradentes, tentando libertar-se do ambiente estressante. Mas seguiram-se atos obscuros como uma devassa nas contas pessoais do funcionário e algo que a relatora descreve como “quase tortura psicológica”.

No processo estão colocados laudos que atestam depressão profunda sobre a família do ex-gerente do BB. Psicologicamente abalado, Wellington decidiu por um programa de demissão voluntária. Alguns dias depois contratou advogado e ingressou com o pedido de reparação de danos morais agora concedido pelo TJ.

Assalto

No dia 8 de julho de 1994, sexta-feira, o casal e dois filhos foram abordados pelos seqüestradores, ao chegar em casa. A mulher e os dois filhos tiveram as mãos atadas e ficaram sob o poder dos criminosos em Fazenda Rio Grande. Eram ameaçados de morte caso Wellington não abrisse o cofre da agência, para que pudessem pegar o dinheiro. Enquanto isso o gerente mostrava aos assaltantes dentro da agência que era impossível abrir antes do horário bancário de segunda-feira.

A fechadura eletrônica fora programada pelo próprio Wellington, que acabou por convencer os delinqüentes ser inviável o acesso ao dinheiro a quem quer que fosse, mesmo diretores do BB. Algum tempo depois a polícia prendeu um vigilante da agência, por prática de outros crimes. O detido acabou confessando que foi o informante da quadrilha.

Mas o gerente foi obrigado a se desfazer, por valor irreal, da casa onde morava e onde sofria constantes ameaças. Passou por tratamentos psicológico e médico, os quais ainda perduram. Está consciente, porém, de que o cumprimento da decisão judicial ainda pode levar mais algum tempo. “Não perco a esperança de lavar a honra plenamente”, disse. “Confio na Justiça brasileira.”

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