Juros e desenvolvimento

A próxima reunião do Copom está marcada para os próximos dias 16 e 17. Os empresários e analistas são quase unânimes em achar que a taxa de juros básica (Selic) vai permanecer mais uma vez em 16,5%. Parou de cair e ficará no mesmo lugar. Há apenas um ou dois economistas que acreditam numa queda estratégica de 0,25%, que seria mais uma decisão política que técnica. Apenas para amainar a gritaria do mercado e dos empresários, que exigem a continuidade do processo de queda, para que possam retomar as vendas e os investimentos, fazendo o País voltar a crescer.

Declarações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fazem crer que a opção pior, ou seja, a manutenção da taxa básica em 16,5%, será a decisão do Copom. Ele defende com unhas e dentes a atual taxa, embora seja a mais alta do mundo. Diz – que grande consolo! – que embora campeã mundial, a nossa taxa mínima de juros é a menor dos últimos dez anos. E, nem por isso, deixamos de crescer em alguns períodos. Os juros altos não foram impeditivos. Para Meirelles, o que dita as condições de desenvolvimento econômico é a estabilidade.

As declarações do presidente do Banco Central resultaram, de imediato, numa queda no índice da Bolsa de Valores de 4,43%, altíssima, mesmo dentro dos exagerados padrões de flutuações bursáteis brasileiros. O dólar subiu e o risco-país foi para 550 pontos, elevando-se 3,2%. Há horas que o melhor é ficar calado e Meirelles, sem dúvida um homem responsável, embora isto não o impeça de errar e implantar políticas monetárias equivocadas, ao falar às vésperas da reunião do Copom, criou agitação no mercado, pessimismo e a quase certeza de que os juros, mesmo considerando os reais, continuarão altos e campeões no ranking das taxas em todo o mundo.

É verdade que a estabilidade é pré-condição para fazer um país crescer, embora duvidoso que só ela, à falta de políticas desenvolvimentistas, dinheiro a um preço acessível e outras condições, consiga tal resultado. Só estabilidade não faz país nenhum desenvolver-se. Isso lembra um fato contado pelo falecido diplomata, economista e político Roberto Campos. Ele, que foi ministro do Planejamento, além de haver ocupado outros postos políticos da maior importância, contou, de sua tribuna no Congresso, que compareceu a um encontro internacional, como diplomata. Na ocasião, ouviu um longo e eufórico discurso do representante de um pequeno país da América Central. O diplomata latino-americano enaltecia seu país porque estava absolutamente estável. Não tinha déficits, não tinha dívidas, todas as contas estavam em dia e o orçamento redondinho. Só que esse país de tanta estabilidade não ia pra frente nem pra trás e mantinha, também estáveis, seu subdesenvolvimento e gravíssimos problemas sociais. Concluiu Roberto Campos: “A virgindade pode ser uma virtude, desde que não resulte da impotência”.

Se é para o Brasil desenvolver-se economicamente, o que traria tantas conseqüências boas, a principal das quais a redução do desemprego e, quem sabe, também do subemprego, e a política do Banco Central visa a estabilidade, por que não crescemos? Pelo contrário, encolhemos, andamos para trás. Se as taxas de juros devem ser mantidas elevadas para evitar o crescimento da inflação, por que os preços continuam subindo? E preços subindo denunciam inflação.

Esta é uma política ortodoxa ou paradoxal?

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