Juros e compulsório

É difícil de entender. E mais ainda de pagar a conta do aumento da taxa básica de juros (Selic) determinada pelo Copom, de 25,5% para 26,5%, e o aumento, inesperado, do depósito compulsório dos bancos no Banco Central, de 45% para 60%. O objetivo dessas medidas é segurar a inflação e fazer com que o sistema financeiro disponha de menos reais para a compra de dólares, contendo sua cotação. Pensa-se que há inflação de demanda, ou seja, os brasileiros estão comprando mais do que deveriam e do que o País produz, criando um desequilíbrio que resulta em aumento de preços. Mais procura e menor oferta, igual a alta de preços, conforme a lei da oferta e da procura, que nem os boladores dos antigos pacotes nem o governo do PT conseguiram revogar.

Há quem, entretanto, entenda que não há inflação de demanda e que a alta de preços vinha se arrefecendo, o que recomendaria a manutenção da taxa básica (Selic) ou até sua redução.

O governo petista, que por anos a fio condenou a política de altas taxas de juros, em pouco mais de um mês de administração já a elevou duas vezes.

Os juros subirão não só por isso, mas também pelo aumento do compulsório. Este é a obrigação dos bancos recolherem, do que recebem de sua clientela, uma parte ao Banco Central. Era 40% e agora é 60%. Isso diminui a disponibilidade do sistema financeiro para emprestar. E se há pouco dinheiro e muita procura, o resultado é juros mais altos.

Explica-se a grita do empresariado, pois ele precisa de dinheiro para seus negócios, para investir, para produzir mais, para pagar contas e para gerar e manter empregos. E o povão, o que é que tem a ver com isso? Muita coisa, mas destacaríamos duas conseqüências que dizem de perto aos problemas que o governo Lula apontava e prometia resolver. Um é o do desemprego, que tende a aumentar. Outro, é a proteção das camadas mais pobres da população. Funciona no Brasil um vasto sistema de verdadeira agiotagem oficializada, financeiras independentes que vendem dinheiro às pessoas mais humildes. Chegam a colocar nas calçadas das grandes cidades propagandistas distribuindo folhetos com oferta de dinheiro sem a necessidade de cadastro, avalista ou qualquer outra garantia. É dinheiro pouco para quem ganha quase nada. Estatísticas demonstram que o pobre brasileiro é o mais correto no pagamento de suas contas. E que nada entende de juros. Ouve a oferta do agiota oficializado, calcula se dá para pagar as prestações, mesmo que multiplicadas ao infinito e, à falta de outra solução, pega o dinheiro. Os juros que paga são estratosféricos, absurdos. São tão elevados que algumas dessas pretensas financeiras sequer executam o devedor que, por acaso, não conseguir pagar suas prestações. É que o seu lucro é tão elevado que uma perdazinha aqui, outra ali, não faz diferença.

Disso deveria cuidar o governo de um partido que integrou a luta para limitar a 12% os juros anuais, dispositivo que colocou até na Constituição, mas que nem assim conseguiu revogar a realidade econômica da oferta e da procura.

As medidas de alta dos juros e aumento do compulsório, determinadas pelo governo Lula através do Copom, até podem ter razoáveis justificativas. Mas seus efeitos não se limitarão à pretendida contenção do ritmo inflacionário. É preciso defender as empresas que dão empregos e os pobres, que são explorados.

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