Juiz apóia PF e diz que posição da Fiesp lembra quando nobres estavam acima da lei

O presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Jorge Antonio Maurique, rebateu hoje as críticas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo a respeito da atuação da Polícia Federal na Operação Narciso, que cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão para investigar suspeitas de sonegação fiscal na loja Daslu, em São Paulo

Maurique afirma que a operação foi legítima e estava apenas cumprindo uma decisão judicial. "A reação, e é isso que eu lamento, dessa entidade empresarial, parece querer dizer que empresários ou grandes comerciantes não podem sofrer qualquer tipo de ação do Estado. Na verdade, é um equívoco tremendo", disse ele. A Fiesp, sem citar especificamente a operação Narciso, criticou as ações da Polícia Federal e afirmou que os "fatos notórios recentes" revelam uma "situação de anormalidade".

"O estado democrático de direito está funcionando, e funcionando tão bem, que, a pedido da Polícia Federal, o Ministério Público agiu, o poder judiciário agiu, determinando a expedição dos mandatos necessários", defendeu Maurique.

Em nota oficial divulgada em Brasília ontem (14), o presidente da Ajufe considera a posição da Fiesp como um "resquício do período em que convivíamos com uma distinção entre nobres e servos, estando os nobres acima da lei". "Esse tipo de reação é uma reação arcaica, desfocada no tempo e no espaço e que demonstra que determinadas pessoas ainda gostariam de viver no período medieval", disse ele em entrevista.

Na nota oficial da Fiesp, a entidade afirma que a prisão antecipada de pessoas sem sentença é "extremamente grave" e que a prisão sem "prévia culpa (que) esteja evidenciada" é "admissível". Para Maurique, a visão da Fiesp carece de fundamentação jurídica: "O equívoco da Fiesp me parece que é porque a nota não foi feita por advogados, que são profissionais da área. Embora a regra seja que, nos processos, as pessoas respondam em liberdade, existem alguns tipos de detenção antes da sentença, que não significam antecipação de culpa, mas sim situações de necessidade".

O presidente da Ajufe explica que a legislação prevê as "prisões cautelares", como as temporárias para que sejam feitas investigações. Segundo Maurique, foi por isso que a proprietária da Daslu, Eliana Tranchesi, foi presa e logo depois libertada. "Tão logo comprovada a desnecessidade da prisão da empresária, ela foi colocada em liberdade", disse ele. "O que houve ali é a aplicação da legislação nos seus estritos termos."

Segundo Maurique, não houve nenhum show de pirotecnia ou espetáculo durante a operação da Polícia Federal, como cita a nota da Fiesp. "Nessa situação precisa, o que aconteceu? Aconteceu que não foi apresentada nenhuma pessoa algemada, não ocorreu a exposição na mídia da dona da loja, os jornalistas não acompanharam as apreensões, simplesmente se fez uma panorâmica do local", afirmou o presidente da Ajufe.

Quanto ao ato público que será realizado pela Fiesp junto com outras entidades, Maurique diz que a defesa do Estado Democrático de Direito, o que o mobilização propõe, "pressupõe o combate pleno à criminalidade organizada, a criminalidade colarinho branco, a lavagem de dinheiro, a sonegação e a pirataria". "Isto sim significa a defesa do estado de direito, e não uma eventual defesa de uma pessoa, de um estamento superior, para que não possa ser investigado."

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo
O conteúdo do comentário é de responsabilidade do autor da mensagem. Ao comentar na Tribuna você aceita automaticamente as Política de Privacidade e Termos de Uso da Tribuna e da Plataforma Facebook. Os usuários também podem denunciar comentários que desrespeitem os termos de uso usando as ferramentas da plataforma Facebook.