Jorge Lorenzetti nega envolvimento com negociação de dossiê

Em quase sete horas de depoimento à CPI dos Sanguessugas, o petista Valdebran Padilha e Jorge Lorenzetti, ex-assessor do comitê da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, negaram envolvimento com as negociações de compra do dossiê Vedoin. Os dois afirmaram desconhecer a origem do R$ 1,75 milhão que seriam usados na negociação. "Não tenho a menor idéia de onde veio esse dinheiro. Aliás isso é um trauma para mim. Não tenho nenhum vínculo com esse pagamento", disse Lorenzetti, ao alegar que as negociações de pagamento ocorreram sem seu conhecimento.

Valdebran reafirmou que conversou pelo telefone com uma pessoa chamada Jorge (para integrantes da CPI, seria Lorenzetti) sobre as negociações envolvendo dinheiro pelas informações contra os tucanos. Lorenzetti negou ter falado com Valdebran. "O que pôde ser constatado é que estão sendo omitidos dados. Nada foi dito que elucidasse a origem do dinheiro", resumiu o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).

Para a oposição, Lorenzetti caiu em contradição e mentiu à CPI. Levantamentos feitos pela comissão mostram que o ex-assessor da campanha de Lula trocou 105 telefonemas com Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e apontado pela Polícia Federal como o homem da mala, nos dez dias que antecederam à operação que estourou o escândalo do dossiê. "Esse é um conto da Carochinha muito mal contado", afirmou o sub-relator da CPI, Carlos Sampaio (PSDB-SP). "Eles se falam 105 vezes e o Lorenzetti não sabe de nada?", retrucou o sub-relator Júlio Redecker (PSDB-RS).

Protegido por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, que permitiu que não respondesse às perguntas sobre quebra de sigilo telefônico, Lorenzetti afirmou que o maior beneficiado com a divulgação dos documentos do dossiê seria à candidatura do senador Mercadante ao governo de São Paulo. O senador petista perdeu a eleição para o tucano José Serra.

Negociação

Nas três horas e meia de depoimento, Valdebran contradisse Lorenzetti no ponto em que afirmou ter conversado com Lorenzetti pelo telefone de Gedimar Passos. Nessa conversa, Lorenzetti teria dito que as negociações para a compra do dossiê estavam concluídas. Segundo a versão de Valdebran, o valor acertado teria sido de R$ 2 milhões. E foi nesse contato telefônico que Lorenzetti teria orientado Valdebran a ficar com o R$ 1 milhão para o pagamento da entrevista à revista "Isto É". O restante, R$ 1 milhão, seria pelo pagamento dos documentos que incriminariam os tucanos com a máfia das ambulâncias.

"Acho muito importante a afirmação do Valdebran de que falou com Lorenzetti que lhe teria dito que o dinheiro estava disponível", avaliou o sub-relator Fernando Gabeira (PV-RJ)."Se alguém encontrar algum vínculo meu com esse dinheiro é a mesma coisa que dizer que fui o primeiro homem a pisar na lua", rebateu Lorenzetti.

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