Jato barato pode congestionar espaço aéreo do Brasil

O sonho do jato ao alcance de todos é a mais nova ameaça à segurança de vôo. Grandes empresas pretendem popularizar esses aviões, construindo minijatos que disputarão com Boeings e Airbus o espaço aéreo em grande altitudes. No Brasil, essa faixa acima de 29 mil pés é quase uma exclusividade dos grandes aviões comerciais. Com os novos minijatos circulando entre eles, a possibilidade de colisões aumentará se novas medidas de segurança não forem tomadas. No dia 29, um choque entre um jato executivo, o Legacy, e um Boeing 737-800 da Gol deixou 154 mortos.

Isso não quer dizer que voar será perigoso. O que os especialistas em segurança de vôo alertam é para a necessidade de medidas preventivas, que já estão sendo tomadas. Hoje, o Brasil registra 18 milhões de decolagens por ano, número que deve dobrar até 2013 – a previsão era que isso só ocorresse em 2015. Será preciso investir em equipamentos para as aeronaves e controle de vôo, treinamento dos pilotos e aumento da capacidade de fiscalização da Agência Nacional de Avião Civil (Anac).

Os novos minijatos são chamados de VLJ, da sigla inglesa para Very Light Jet. São aviões de até 4 toneladas para transportar sete pessoas e relativamente baratos – de US$ 2 milhões a US$ 4 milhões. Além do preço mais acessível, eles têm duas características que a maioria dos jatinhos atuais não têm: voam com um único piloto e em altitude acima de 29 mil pés.

A área de vôo acima de 29 mil pés é conhecida como RVSM (Redução Vertical de Separação Mínima). Para viajar nessa região, um avião deve ter equipamentos específicos, pois nela a separação vertical entre os aviões é de apenas 300 metros. Voar na RSVM significa economia de combustível – quanto mais alto se voa, mais o ar é rarefeito e menor será o atrito.

Como viajam nessas altitudes, os VLJ são mais econômicos. Também voam a até 700 km/h. Os minijatos devem começar a voar em 2007. Hoje, a maioria dos jatos executivos em operação no Brasil não é autorizada a voar na região RVSM. Assim, só jatos como o Legacy podem viajar acima de 29 mil pés, mas eles custam até US$ 25 milhões – podem transportar de 10 a 16 passageiros -, preço que limita suas vendas. Ao todo, o número de jatos executivos e comerciais no Brasil é de 600.

Para enfrentar a ameaça do congestionamento que esses jatos devem provocar nas alturas, os especialistas em segurança de vôo da Anac afirmam que será necessário determinar o tipo de treinamento que será obrigatório para os pilotos dos VLJ. Além disso, eles defendem a possibilidade de que os aviões, no futuro além de voar com uma distância vertical um do outro, também sejam separados por uma distância horizontal, afastando cada aeronave em meia milha do eixo da aerovia (926 metros). Isso é possível fazer com precisão por causa do sistema GPS, que determina a localização de aviões por meio de uma rede de satélites.

Empresas nacionais e internacionais já testam modelos de VLJ. "A aviação a hélice vai acabar. Hoje para ter um jato é muito caro, tem que ter co-piloto. Mas com esses novos modelos não, você vai poder ir de São Paulo a Miami em oito horas", prevê o presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Appa), George Sucupira.

Para o presidente da Appa, evitar o risco de colisões é uma questão de organização e respeito às normas. "Se todos cumprirem seus planos de vôo, e os pilotos forem bem preparados, não haverá problema." O vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), Adalberto Febeliano, não crê em grandes impactos para o tráfego aéreo. "O maior problema será nos aeroportos. São Paulo e Brasília vão entrar em colapso." A aviação executiva no Brasil cresce 5% ao ano e movimenta US$ 300 milhões.

Voltar ao topo