Investigação sobre morte de Menezes está comprometida, afirmam advogados

Os advogados da família de Jean Charles de Menezes, brasileiro morto por engano pela Scotland Yard no dia 22 de julho, afirmaram que o trabalho da comissão independente que está investigando o caso já está comprometido.

Eles solicitaram às autoridades britânicas que os pais e o irmão da vítima, residentes em Minas Gerais, sejam levados a Londres para acompanhar de perto o andamento da investigação e obter mais informações sobre as circunstâncias do incidente.

Em nota distribuída à imprensa, o escritório Birnberg Peirce, chefiado pela advogada Gareth Peirce, lembrou que o caso somente foi entregue oficialmente à comissão independente de investigação – a Independent Police Complaints Commission (IPCC) – vários dias após a morte do brasileiro embora as normas do estatuto policial afirmem que em tais circunstâncias isso deveria ocorrer "o mais cedo" possível e certamente dentro de um prazo de 24 horas.

"Quando vemos uma aparente política de atirar para matar ser subitamente acionada com conseqüências tão devastadoras e não desejadas, e aqueles responsáveis não cumprem com os mecanismos mais básicos de salvaguardas estatutárias que objetivam garantir alguma independência, a integridade da investigação já é questionada", afirmaram os advogados.

Os advogados também criticaram a visita que o vice-comissário assistente da Scotland Yard, John Yates, fez aos familiares de Menezes em Gonzaga, Minas Gerais, no dia 1º de agosto, na qual, entre as outras coisas, foi discutido o pagamento de uma indenização inicial pelo erro policial.

"O encontro, realizado poucos dias após o funeral, propiciou à família pouco tempo para começar a ser recuperar do choque com a morte", afirmaram os advogados. "O escritório Birnberg Peirce, representando oficialmente a família, não foi consultado ou informado com antecedência sobre a visita."

Segundo os advogados, os pais de Jean, Matozinhos Otone da Silva e Maria Otone de Menezes, além do irmão Giovani da Silva,, somente foram informados sobre a visita da Scotland Yard no dia anterior a ela, alertados por vizinhos que viram a notícia na televisão.

Os advogados afirmaram que ao reclamar junto a Scotland Yard por não terem sido avisados da visita, ouviram a sugestão de que eles apenas atuam no caso em nome dos primos de Jean, e não seus familiares diretos no Brasil.

"Na ausência de uma linha telefônica na casa da família no Brasil, foi impossível obter instruções diretas num prazo tão curto, entretanto os primos residentes na Inglaterra, todos oriundos da mesma cidade, tinham confirmado as instruções em nome da família", afirmaram os advogados. "A pesar do pedido da família, Yates não demonstrou disposição de esperar pela chegada de um representante de nosso escritório para participar da reunião."

Numa visita a Gonzaga realizada na quinta-feira passada, a advogada Harriet Wistrich, do Birnberg Peirce, fez um relato aos pais de Jean dos detalhes já conhecidos do incidente e os procedimentos legais que poderão ser tomados no caso. "A família expressou sua incredulidade sobre as circunstâncias da morte de Jean Charles", afirmaram os advogados.

"Eles expressaram seu desejo de descobrir toda a verdade sobre a morte e obter justiça através da lei britânica. Eles querem que os responsáveis sejam totalmente responsabilizados por essa morte trágica e desnecessária." Os advogados vão solicitar que a polícia britânica financie uma visita dos familiares de Menezes a Londres para que eles possam ver onde Jean viveu e morreu, além de se encontrarem com representantes da comissão independente.

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