Invasões e investimentos

Pode ser que no passado a abertura do Brasil a investimentos externos tenha sido uma decisão política. Hoje, abrimos as portas para os capitais privados do exterior, convencidos de que não temos poupança interna suficiente para promover o nosso desenvolvimento econômico. No mais, a globalização, por mais que seja rejeitada, é um fato inescapável na economia. Certo que queiramos proteger o capital nacional; que lutemos contra a exploração estrangeira e defendamos o que é brasileiro. Mas, exportando como nunca e importando de forma a termos superávits na balança comercial, estamos percorrendo a estrada de mão dupla do mercado internacional. E, ainda por muito tempo, a via quase de mão única dos capitais.

Fatos internos, entretanto, têm projetado nos últimos tempos uma imagem negativa do Brasil no exterior, o que pode prejudicar os fluxos de capitais de que tanto necessitamos. São fatos que inibem novos investimentos, inclusive os internos. O Financial Times, de Londres, um dos mais prestigiosos jornais especializados europeus, aborda o problema das invasões de sem-terra no Brasil. Toma uma posição favorável à reforma agrária e reconhece a sua urgência. Mas faz uma análise e advertência. Diz que, “nos últimos 15 dias o MST, o maior dos movimentos de sem-terra, invadiu mais de 40 propriedades rurais, incluindo a plantação de árvores da Veracel no sul da Bahia. Essa propriedade tem grande participação da companhia de papel sueco-finlandesa Stora-Enso. Milhares de manifestantes transformaram 25 hectares de árvores jovens em plantações de legumes. O jornal britânico ouviu Vitor Costa, presidente da Veracel, que disse: “É um sinal muito ruim para os investidores. O governo não pode perder o controle dessa maneira”.

Acrescenta o Financial Times: “A recente onda de atividade do MST surge justamente quando Lula esperava que a repercussão de um escândalo envolvendo um assessor parlamentar começasse a diminuir. O escândalo provocou críticas acirradas depois de uma prolongada lua-de-mel no ano passado e antes das eleições municipais de outubro”. E vaticina que “partidos de oposição e o forte ?lobby? agrícola do País agora certamente vão renovar suas críticas ao governo, que darão novas manchetes”.

Torcendo pela solução dos problemas sociais, o Financial Times diz que “durante quase duas décadas o MST vem lutando para reverter uma distribuição de terras altamente desigual. Mais recentemente, o movimento afirmou que Lula não está agindo com rapidez suficiente para cumprir sua promessa de uma reforma agrária abrangente”. O jornal inglês, demonstrando bom conhecimento dos problemas brasileiros, diz que a maioria dos seguidores do MST são moradores urbanos, desempregados ou camponeses pobres que desejam ter um lote de terra próprio. Mas a liderança do MST é altamente politizada e sabe-se que instrui seus novos recrutas com literatura revolucionária.

No final do artigo, afirma que críticos dizem que a complacência do governo com o MST está afastando os investimentos privados. Só a Veracel tem investimentos no Brasil da ordem de US$ 1,25 bilhão. A empresa tem um dos maiores projetos da iniciativa privada no governo Lula e deverá inaugurar uma fábrica de processamento de 900 mil toneladas por ano, em julho de 2005. Um acordo possibilitou a liberação dessas áreas invadidas na Bahia. O que estarão pensando os investidores?

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