O ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte de Justiça do País, disse que o Poder Judiciário está sendo alvo de ?intimidação? por gente interessada em criar ?um estado policial?. Se verdade, não está provada. O magistrado cobrou de Tarso Genro, ministro da Justiça, o que considera vazamento de informações sigilosas partindo da Polícia Federal. Para ele, a PF faz ?uma operação de marketing? para desvalorizar a Justiça. O ministro Gilmar Mendes acrescentou: ?Esse tipo de prática é uma tremenda canalhice?. Mendes aduziu, em tom de desabafo: ?Fontes da Polícia Federal informam que o ministro Gilmar Mendes está na lista. Ora! Que o ministro da Justiça venha dizer: o ministro Gilmar foi citado, ou que o procurador-geral assuma esse tipo de ônus?. O vice-presidente do Supremo teve seu nome divulgado extra-oficialmente como uma das autoridades que estariam constando de uma lista de beneficiados com presentes pela construtora baiana Gautama, aquela investigada pela Operação Navalha. Para a autoridade do Judiciário, isso acontece pelo fato de ter sido relator de pedidos de habeas corpus concedidos pelo STF a alguns dos 46 presos na operação da PF contra os fraudadores de licitações.
?Os senhores não acham estranho que essa divulgação só se dê depois da concessão de alguns habeas corpus que incomodaram certos grupos??, indagou aos jornalistas. Para ele, ?ministro do Supremo não pode ter medo; se isso acontecer, quem tem que ter medo são os senhores. Mas que isso pode funcionar em outros setores, outras instâncias, isso certamente?, admitiu. E mais adiante, disse: ?Quando se atemoriza juiz, temos o terrorismo policial se instalando. Isso é bom para a democracia? Hoje é com um cidadão qualquer, amanhã pode ser com sua mãe?.
Na mesma oportunidade, o ministro, que tanto condenava o vazamento de informações sigilosas, divulgou algumas delas para negar que seu nome esteja na lista da Gautama. Argumentou que o nome constante da lista da Polícia Federal é de um homônimo. O Gilmar da lista é Gilmar Soares Mendes. O do ministro é Gilmar Ferreira Mendes. Possível, provável, certo se o afirma a própria autoridade judiciária e isso é muito bom.
Ele é contra o noticiário que dá a entender que a polícia prende e o Judiciário solta. Mas isso não é coisa de noticiário, mas uma impressão da opinião pública que a imprensa vez ou outra registra, não inventa. Para Mendes, ?há uma estrutura de marketing pensada para valorizar a Polícia Federal e diminuir o papel da Justiça nesses casos?.
Pela segunda vez, cobrado pelo ministro Mendes para que tome providências, Tarso Genro teria recomendado que faça uma representação formal contra a Polícia Federal.
?Estou fazendo a representação por meio de vocês?, prosseguiu irritado o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal. Entende-se que um ministro da mais alta corte de Justiça do País, sentindo-se tratado como suspeito de tão graves irregularidades e interpretado como parcial, quando concede habeas corpus a detidos pela polícia numa operação tão escandalosa, manifeste indignação. Mas há de entender que vivemos num País em que em todos os poderes já foram revelados fatos altamente constrangedores, parcialidades e mesmo procedimentos criminosos. Se inocente, recomendável que trate o assunto com mais serenidade. Poderá provar farta e facilmente sua inocência, ajudando a sustentação do prestígio do Judiciário que, se cair no descrédito, afundará de vez o regime democrático do qual é um dos mais importantes pilares.