Intervenção no câmbio

O dólar despencou para abaixo dos R$ 3,00, depois de já ter estado bem acima dos R$ 3,50. A taxa atual está bem mais próxima da realidade, ou seja, da relação efetiva entre o poder de compra da moeda norte-americana e o da brasileira. Lula acha, entretanto, que o ideal é algo em torno de R$ 2,40.

O dólar a preço de banana parece coisa muito boa, mas a verdade é que pode prejudicar as exportações, das quais o Brasil muito depende para promover o seu desenvolvimento. Desenvolvimento que precisa de dólares e também pelo aumento das nossas exportações. Se produtos aqui fabricados são vendidos no exterior, no Brasil geram empregos e produzem divisas. Se importados, sustentam empregos em outros países.

A preocupação com o dólar cotado muito baixo em relação ao real tem sentido. O produtor ou fabricante brasileiro que exporta, ou o que exporta e ainda vende no mercado interno, busca a melhor remuneração. Se o dólar baixa excessivamente, como exportador irá receber, em reais, menos do que receberia se o dólar tivesse cotações mais altas. Se também vende no mercado interno, a alta do dólar faz com que se volte para o mercado externo. Se há baixa excessiva, perde esse mercado e é preciso que os preços internos sejam suficientes para remunerá-lo.

Armínio Fraga, quando presidente do Banco Central, interveio contínua e pesadamente nas cotações do dólar. Quando ele subia excessivamente, vendia dólares do BC, aumentando a oferta e derrubando os preços. Quando acontecia o contrário – ocorria baixa desarrazoada – comprava dólares. E a lei da oferta e da procura funcionava elevando as cotações. É legítima essa intervenção do Banco Central como autoridade monetária? Entendem muitos que sim e esta é uma das razões porque querem um Banco Central independente. Independente, livre das interferências do governo ou de grupos, administrando a moeda no interesse exclusivo do País.

Considerando-se que o real não é uma moeda conversível e que os nossos negócios externos são feitos em dólares, entendemos que as intervenções do Banco Central no câmbio não só são legítimas, mas às vezes necessárias e de sua obrigação. Ele precisa defender a nossa moeda e as nossas reservas.

No governo Lula não há unanimidade sobre o assunto. Aliás, não há unanimidade sobre nada. Em qualquer assunto há os grupos contra e os a favor, posicionados como se fossem situação e oposição. Esta situação levou o presidente Lula, no caso das reformas, a ameaçar até de demissão ministros e expulsão de deputados e senadores do PT. Também não se entendem sobre a intervenção no câmbio. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, acha que o BC não deve intervir, deixando que o mercado se encarregue de estabelecer as cotações do dólar norte-americano em relação ao real. Já o senador Aloízio Mercadante, tido por muito tempo como o mais entendido em matéria de economia e finanças no PT, em reunião pública se posicionou pela intervenção do BC quando necessária, ameaçando, em tom de brincadeira, provocar situações em que isso se torne inescapável. No Ministério do Planejamento fala-se em intervenções pontuais, assim que a inflação dê sinais de que está sob controle.

A verdade é que ela vem perdendo impulso, o dólar caiu substancialmente, mas os reflexos no custo de vida ainda não se fizeram sentir de forma perceptível. Quando o dólar sobe, todos os preços em reais sobem imediatamente; mas quando ele cai, ou ficam lá no alto ou descem preguiçosamente.

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