Infeliz persistência

É triste ver a insistência norte-americana quanto a um ataque ao Iraque. Apesar de cada vez mais os Estados Unidos estarem isolados (França, Alemanha, China e Rússia negaram apoio ao cruel ataque), a idéia fixa persiste. Parece que Bush e companhia são donos da verdade. De acordo com a mentalidade narcisista deles, apenas seu grupelho pode julgar e condenar o regime de Saddam Hussein. Não que o ditador iraquiano seja santo, mas que tal decisão deveria ser uma unanimidade mundial.

Os reflexos da possível guerra pairam sobre o Brasil. Ademais de ser começo de um novo governo, a instabilidade internacional causa pânico no mercado financeiro brasileiro, que já não é tão seguro. Isso revolta ainda mais. Pois tal insensatez de Bush e seu bando acaba prejudicando várias nações que só querem se desenvolver de uma maneira ordeira e progressista.

Para piorar, Colin Powell deu uma declaração muito infeliz esta semana, afirmando que, caso os Estados Unidos retirem Saddam do poder, o petróleo iraquiano ficará sob tutela norte-americana. Segundo ele, o petróleo seria administrado em favor do povo iraquiano. Quanta asneira. O mundo sabe que os interesses dos partidários de Bush são outros. Que pouca vergonha.

E o premier britânico, Tony Blair, que afirmou que Saddam tinha estreitas ligações com Osama Bin Laden. Outra inverdade (informação desmentida pela Organização das Nações Unidas, ONU), que realizou uma profunda investigação sobre essa calúnia, jogada ao grande público, para que este aceite a idéia de atacar impiedosamente o Iraque.

Fico questionando sobre o grau de sanidade mental de Bush e companhia. Será que eles não conseguem ver que dentro do Iraque existem famílias, crianças e idosos inocentes? É duro de engolir e aceitar que ainda há governantes no mundo que pensem em guerra, destruição em massa e infelicidade. Inclusive os próprios norte-americanos são contrários a uma guerra sem a aprovação da ONU.

Por falar em ONU, cabe à instituição se impor e, caso os Estados Unidos ataquem sem o seu consentimento, punir severamente norte-americanos e aliados. Caso contrário, a credibilidade de tal instituição, respeitada em todo mundo, vai por água abaixo.

Sei que Bush não lerá este artigo, pois ele nem sabe que aqui no Brasil se fala português, pensa que falamos espanhol (que diga o nosso presidente Lula em visita a ele), mas mandarei um recado. Guerrear, expor vidas inocentes e matar milhares de norte-americanos e iraquianos por poços de petróleo não vale a pena. Por que não lutar para combater a fome em dezenas de países subdesenvolvidos, que necessitam do apoio internacional? Bush, não me faça pegar nojo.

Anselmo Meyer (anselmo@pron.com.br) é editor de Cidades em O Estado.

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