Incompatível com o bolso

No fim do mês passado, a Apple Computer lançou o Power Mac G5, a nova linha de computadores Macintosh, equipada com os processadores Risc PowerPC de quinta geração, que inaugura a era dos 64 bits na computação pessoal. Na base da linha está o modelo mais acessível, de 1,6 GHz, que custa US$ 1.999, nos EUA; no topo, a versão com dois processadores, rodando a um clock de 2 GHz. Como sempre, testes de benchmark mostram ele deixando para trás Pentiuns e Xeons rodando a clocks maiores. O problema dessas máquinas dos sonhos é que elas são isso mesmo: um sonho distante para o bolso dos macmaníacos brasileiros. Mesmo os Macs entry-level, como o eMac e o iMac, chegam ao Brasil a preços estratosféricos, por causa dos impostos e do câmbio desfavorável.

Quando a Apple iniciou suas operações no Brasil, em 1995, o dólar desvalorizado em relação ao real tornou o Mac um computador acessivel aos mortais comuns. A família Performa tinha preços equivalentes ou até inferiores aos PCs de marca (IBM, Compaq, Itautec etc.) com desempenho semelhante. Durante algum tempo, o consumidor pôde descobrir que a plataforma da Apple, com sua facilidade de uso, graças à interface gráfica amigável e intuitiva do sistema operativo Mac OS, era uma boa alternativa de computador pessoal para a casa e o escritório. Claro que a incompatibilidade com o Windows acabava empurrando os usuários Mac para uma espécie de gueto, mas os documentos gerados pelos aplicativos podem ser trocados livremente entre as duas plataformas. E até mesmo é possível rodar programas de PC dentro do Mac OS, por meio de emuladores, como o SoftWindows e o Virtual PC.

Infelizmente, a maxidesvalorização do real no início do segundo mandato de FHC tirou a competitividade dos Macs no mercado brasileiro. As máquinas da Apple voltaram a ser consideradas caras e destinadas a nichos de mercado, como as artes gráficas, a música, o cinema e as pesquisas científicas. E, por ironia do destino, isso aconteceu no momento em que Steve Jobs, fundador da Apple, retornou à empresa para conduzir sua extraordinária recuperação financeira, lançando produtos como o iMac, iBook, iPod, novas famílias de Power Macs e PowerBooks e o Mac OS X, novo sistema operativo construído sobre uma base Unix.

Uma solução para reduzir os preços seria a Apple produzir Macs no Brasil, o que já foi feito na era dos Performas. Isso aliviaria a carga tributária. O problema é que as incertezas que rondam a economia do País nos últimos anos desestimulam investimentos desse porte. A Apple precisa se convencer da viabilidade da implantação de uma fábrica no Brasil, até mesmo como medida de sobrevivência em um mercado dominado pela mediocridade do Windows.

Ari Silveira  (ari@oestadodoparana.com.br) é chefe de Reportagem de O Estado e está guardando uns trocados para trocar seu Power Mac jurássico por um iMac usado em bom estado

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