Humorismo pra ficar mal humorado

Ligar a TV para assistir a um programa humorístico e tentar desopilar um pouco é uma façanha que deixou de ser um ato de prazer. É comum a gente ficar ruborizado diante de tanta baixaria que está se jogando na tela. Os programas mais clássicos e que representavam uma alternativa caíram no “mesmismo”, usando os mesmos chavões dos velhos e surrados humorísticos. E com um agravante: a falta de uma censura prévia está levando a todos usarem a malícia como principal tema dos seus programas.

Não se salva nenhuma das redes. O Casseta e Planeta, que era uma alternativa, virou um emaranhado de apelação que não há quem agüente. A família já não pode mais se reunir para assistir a um programa. Rir de uma piada picante na frente de uma filha de 10 a 12 anos é um constrangimento. E o pior é ter que explicar para os filhos o que significam determinados termos que são usados pelos nossos humoristas de plantão.

A piada política, a sátira dos problemas cotidianos, estão todas relacionadas ao sexo, que é quase única alternativa para se tentar fazer rir. Confesso que tento rir num ou noutro programa. Mas já consegui passar programas inteiros sem esboçar um sorriso sequer, o que dizer uma boa e gostosa gargalhada.

Nos shows dominicais a apelação continua. O que é para ser um espetáculo que agrade, anime, levante o astral das pessoas, é de um mau gosto à toda prova. Piadas malcolocadas, preconceituosas, sujas (como se falava antigamente) e que nada acrescentam na proposta de distração para o público.

Parece mesmo que a falta de censura acabou fazendo mal para nossos humoristas. A busca de piadas surradas, readaptadas, tem sido o que mais se vê. E agora com o advento da internet então, as piadas correm tão rapidamente que quando chega um programa semanal, o que se vai contar já ficou pra lá de ultrapassado.

As tiradas ou sacadas inteligentes já não fazem mais parte do nosso cotidiano. Aquele espírito satírico do carioca, do cearense ou de outros povos brasileiros, há muito tempo ficou superado. Já não temos mais a sutileza de outrora. Ou pior: as piadas estão ficando velhas, batidas, repetitivas. Virou mania comentar sobre a virilidade dos homens, fazer apologia ou criticar o homossexualismo, zombar das “burrices” das loiras e das mulheres, discriminar pobres e malnutridos, enxovalhar acontecimentos e pessoas notáveis, sem a menor cerimônia ou respeito.

Saudades dos pastelões dos Três Patetas, Gordo e o Magro, Cantinflas, Mazaroppi, Jerry Lewis e tantos outros que nos ensinaram a gargalhar. E há quem não dê valor para o Chaves e Chapolin. Estes ainda preservam a inocência de quem faz rir sem mexer com a moral e os bons costumes.

Infelizmente o lixo que se tem hoje na nossa televisão é um convite para desligar qualquer uma das redes, pegar um bom filme na locadora ou torcer para que cheguem as eleições, quando a gente vai voltar a rir de tantos palhaços que aparecem no nosso vídeo, muitos desses, sim, verdadeiros humoristas de plantão, logicamente respeitando aqueles que levam o assunto a sério e têm postura de estadistas.

Osni Gomes

(osni@pron.com.br) é editor em O Estado e escreve aos domingos neste espaço.

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