Hora de trabalhar

Depois de intensas discussões sobre o direito hegemônico garantido pela maioria da base governista de indicar tanto o presidente quanto o relator da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que vai apurar as denúncias de uso abusivo dos cartões de crédito no âmbito da administração federal, chegou-se finalmente ao consenso de entregar a presidência a um parlamentar da oposição.

No caso, a escolha recaiu sobre a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que por sinal teve atuação relevante como relatora do primeiro processo por quebra de decoro parlamentar instalado contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), cujo parecer pedia a cassação do mandato.

Todas as tentativas anteriores de conciliação para evitar a deterioração ainda mais grave das relações entre governo e oposição no Congresso Nacional, foram rechaçadas pela liderança da bancada petista, em especial pelo deputado gaúcho Henrique Fontana. Afinal, prevaleceu o bom senso e a senadora Marisa Serrano acabou ficando com a função para a qual a oposição havia ?sugerido? o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).

A manobra pôs à prova a capacidade de negociação por parte do bloco governista, que vê com péssimo humor a probabilidade da instalação duma comissão exclusiva do Senado, sobre a qual dificilmente teria comando absoluto. O acordo foi também aceito para pulverizar a hipótese de ter na presidência da CPMI o senador pernambucano, político de idéias próprias e crítico proficiente daquilo que considera políticas equivocadas do governo Lula.

Superada a fase das conversações que se estendeu além dos limites do tolerável, a sociedade passa a aguardar o resultado do trabalho diligente dos parlamentares, com a exigência fundamental de que a verdade deve ser buscada, doa a quem doer. Não importa discutir se os desvios começaram no governo atual ou no anterior.

A sociedade quer saber e, não há nisso a menor extravagância, se houve gastos abusivos e quem os realizou. E que os responsáveis sejam punidos com o rigor da lei. Muito mais nocivo é apelar para o viciado recurso de varrer o lixo para debaixo do tapete.

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