Honra feita de sangue

A saída momentânea mais recomendável no entendimento dos aliados do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, é transferir o imbróglio do conselho de ética da instituição para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde um processo dessa natureza leva, quase sempre, anos para ser analisado e votado pelos ministros.

O expediente foi sugerido, decerto, por um senador antenado e bastante íntimo, para contornar a impossibilidade de seguir blindando o presidente do fogo cerrado a que está submetido desde a reportagem da Veja, acusando-o de pagar pensão alimentícia de sua filha com a jornalista Mônica Veloso, mediante a intermediação do lobista Cláudio Gontijo, com dinheiro cedido pela empreiteira Mendes Júnior.

Na definição passional do senador, os ataques a ele desferidos representam uma tentativa de ?assassinar minha honra?, numa peroração que tem muito da retórica dos palanques, mas exígua ligação com a verdade cada vez mais cristalina.

Afinal, é mister que sua excelência reconheça de uma vez por todas que o calhamaço de ?provas? fornecido ao conselho de ética, em manobras subseqüentes e diversionistas, sempre com o remendo – para pior – dos disparates apontados na explicação anterior, o transformou em refém duma armadilha moral poucas vezes testemunhada no Congresso Nacional.

A verdade meridiana, por mais dolorosa, é que o desgaste do presidente Renan Calheiros chegou a um ponto tal que sua palavra já não se reveste da credibilidade intrínseca ao status constitucional de terceiro nome na linha sucessória da Presidência da República. Melhor será a retirada.

E o visível desconforto não poupa sequer seus defensores, a julgar pela dificuldade do presidente Sibá Machado (PT-AC) de nomear novo relator para o processo, depois das renúncias dos senadores Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Wellington Salgado (PMDB-MG), que pleiteavam o arquivamento do caso.

Apesar da pompa cívica representada pela presidência do Senado, é difícil concordar que exista alguém disposto a ?assassinar a honra? de Calheiros. Parece que o estoque de razões do estadista alagoano se esgotou…

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