A redução de 0,5 ponto porcentual da taxa básica de juros da economia foi uma decisão de inteira responsabilidade do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, e dos diretores do BC que integram o Comitê de Política Monetária (Copom). Desta vez não houve consulta ou discussão prévia com o Ministério da Fazenda, como acontecia quando Antonio Palocci ocupava aquela pasta

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Durante o governo Lula, o Copom sempre teve autonomia para definir a taxa de juros. Mas, até a reunião de março último, Palocci atuava como uma espécie de interlocutor de Meirelles e de alguns diretores do BC, procurando traçar horizontes para a economia e parâmetros para a política monetária, tendo em vista o comportamento da inflação e os objetivos de longo prazos do governo

Por isso mesmo, Palocci sempre apoiou as decisões do Copom, embora não participasse diretamente delas – conversava antes com quem iria decidir, como lembrou ontem uma fonte do governo. Era também o ex-ministro que fazia a "ponte" entre o presidente do BC e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Palocci era uma espécie de anteparo do BC, um filtro das razões do BC para a queda ou elevação dos juros apresentadas a Lula

Com a ida de Guido Mantega para o Ministério da Fazenda, lembraram ontem as mesmas fontes, Henrique Meirelles passou a tratar a questão dos juros diretamente com o presidente Lula. O diálogo do BC com a Fazenda sobre juros inexiste atualmente, por causa das divergências de Mantega com Meirelles sobre essa questão. O ministro deseja que a queda dos juros seja mais acentuada, em contraposição ao gradualismo defendido até agora pelo BC

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Desta vez, pelo menos, não havia, no governo, uma posição contrária ao gradualismo do BC. Pela primeira vez desde que os juros começaram a cair, em setembro do ano passado, verificou-se um temor, mesmo em setores tradicionalmente mais identificados com as teses desenvolvimentistas, de que uma queda mais drástica dos juros prejudicaria a economia brasileira, por causa da instabilidade do cenário financeiro internacional, principalmente da economia americana

Pesou também o forte crescimento da economia no primeiro trimestre deste ano. Segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% nos primeiros três meses em comparação ao último trimestre de 2005. A avaliação que predominou ontem no governo, antes da decisão do Copom, foi a de que o melhor seria que a taxa continuasse caindo, qualquer que fosse a redução. O importante era, no entendimento dos governistas, que o sinal de queda dos juros fosse mantido

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O senador Aloizio Mercadante (SP), ex-líder do governo no Senado e candidato do PT ao governo de São Paulo, disse ontem que o Banco Central mostrou que está seguindo a mesma estratégia de redução dos juros definida anteriormente. "Não houve razão para qualquer mudança", disse. Mercadante, identificado como um dos principais integrantes do grupo desenvolvimentista do governo, acha que a turbulência externa não é razão para que a política do BC seja alterada. "Houve um tempo em que a economia americana espirrava e a economia brasileira contraía pneumonia. Hoje, o espirro é apenas um espirro", disse