Habemus oposição

Lula assumiu sem oposição. Desde logo apoiaram-no os que estiveram com ele no primeiro turno. Em seguida, vieram os que perderam, à exceção de José Serra. Mas houve e há complacência de Fernando Henrique Cardoso e muitos dos que pertenceram ao seu governo. Somaram Garotinho e Ciro Gomes, este até deixando uma ridícula barba e assumindo um ministério que, com o primeiro corte orçamentário, passou a gerir quireras.

O poder tem uma enorme força de atração. É um poderoso ímã, pelas benesses que pode propiciar, os cargos que pode oferecer e as mordomias que enseja aos que dele participam. Ser amigo do rei já é uma honraria, que, se nada mais render, pelo menos resultará em uma ou outra nota nas colunas sociais e políticas. O prestígio com que assumiu o presidente Lula foi tão grande que todos quiseram dele compartilhar. Parecia pouco apropriado ser contra ou crítico de sua iniciante gestão. Não lhe faltam méritos. Nem ao seu governo. Mas ele, seu governo e a democracia não podem prescindir de oposição, seja aqui e ali contra, seja apenas crítica. O que, quando positiva, contribui para a melhoria dos atos do poder.

Esteve e ainda está com Lula e com o governo o inimaginável. Graças aos acordos feitos antes do pleito, bastante heterodoxos, passaram a fazer parte do esquema de poder desde liberais até comunistas sobreviventes e oligarquias envelhecidas, porém ainda detentoras de força. Excluídos foram poucos e, para espanto dos analistas mais sérios, dentre esses passaram a figurar os petistas de primeira hora que conservaram sua fidelidade a posições ideológicas.

Agora, finalmente, começamos a ter oposição, principalmente no Congresso Nacional. Lula e o Brasil devem dar graças pelo nascimento dessa oposição que, sem sua atuação, o País poderá ser levado a uma unanimidade, o que sempre é solução burra. E o governo a cometer graves erros, ensurdecido pelos unânimes, gratuitos e estrepitosos aplausos. Pouco antes do Carnaval, verificou-se a subida do tom de críticas de uma nascente oposição no Congresso, justamente o poder que vai legislar sobre as pretendidas, desejadas e indispensáveis reformas. E espera-se que melhore as propostas governamentais. PFL e PSDB lideram o ataque, acusando o governo de “paralisia”, pelo fato de o Planalto não ter definido prazo para envio à Câmara e ao Senado das propostas das reformas previdenciária e tributária. E o PFL ainda prioriza a reforma política.

Essa nascente oposição, até há pouco condescendente com o Executivo e pronta para o adesismo, entende que a reforma da Previdência não teria saído por oposição ferrenha do próprio PT, o que de certa forma é verdade. No governo FHC, o partido de Lula fez tudo para que não acontecesse a reforma, embora agora esteja desenterrando o projeto do governo Fernando Henrique Cardoso, para dar início ao processo.

O deputado José Carlos Aleluia, líder do PFL na Câmara, diz que a oposição espera “apenas que o Executivo faça seu papel”, que é apresentar as propostas de reforma para que o Legislativo trabalhe a partir delas. Esse processo de redução do adesismo, do puxa-saquismo e início de uma oposição crítica mais contundente é bom para o governo Lula e melhor ainda para o Brasil.

No andar da carruagem, o que estávamos assistindo era um governo bem intencionado, mas, à falta de uma oposição, sujeito a cometer sozinho erros graves, o que é comum nas ditaduras, mas nunca nas democracias.

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