As montadoras poderão ser beneficiadas com ampliação dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com novas regras para receber mais rapidamente seus créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Esses foram os principais tópicos discutidos na reunião de hoje (10) entre os ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Trabalho, Luiz Marinho, e técnicos do Ministério do Desenvolvimento com representantes das montadoras.

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Marinho descartou qualquer possibilidade de o governo mudar a política cambial ou reduzir impostos dos carros para compensar a desaceleração das exportações da indústria automobilística. "Não tem mudança no câmbio ou redução de carga tributária", afirmou.

Na terça-feira, Mantega havia afirmado que estudaria pedido de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), uma antiga reivindicação das montadoras. Hoje, porém, a própria Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que essa reivindicação não estava na pauta.

O presidente da Anfavea, Rogelio Golfarb, saiu convencido de que o câmbio, principal ponto de reclamação dos exportadores, não será modificado. "O câmbio é flutuante", confirmou. Segundo o empresário, não há prazo para que decisões sobre ajuda do BNDES e liberação dos créditos de exportação do ICMS, conforme prevê a Lei Kandir, sejam tomadas. As discussões entre governo e setor privado sobre o problema das exportações do setor começaram depois que a Volkswagen, maior exportadora de veículos do País, anunciou que promoverá milhares de demissões por causa da queda da produção com a perda de contratos de exportação por causa da política cambial. A empresa não fala em números, mas o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC afirma, com base em dados da montadora, que as dispensas podem atingir quase 6 mil funcionários até 2008 o equivalente a 27% do atual quadro.

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De acordo com Marinho, o governo pode ampliar a linhas de financiamento do BNDES destinadas à exportação e criar uma linha especial para novos projetos de engenharia, ambas reivindicações da Anfavea. Marinho disse que o governo está disposto a estudar medidas que compensem a perda de competitividade causada pelo câmbio também para outros setores. Afirmou que o governo deixou bem claro aos representantes do setor automotivo e ao setor calçadista que não haverá mudanças na política cambial.

O ministro do Trabalho ressaltou ainda que é preciso separar a reestruturação que a Volks está realizando mundialmente dos problemas enfrentados pelo setor como um todo.

Greve

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O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, disse hoje que a decretação de greve nas fábricas da Volks no Brasil é iminente. "A chance de ocorrer é de 99,99%, só não digo a data para ninguém estragar". Na próxima semana haverá passeata com 499 funcionários do Centro de Formação e Estudo da Volkswagen e seus familiares. Estes trabalhadores, segundo Feijóo, são os primeiros da lista de demitidos da montadora, que não confirma a informação.

Feijóo retornou hoje da Alemanha, onde participou por três dias da reunião do Comitê Mundial de Trabalhadores da Volkswagen. Sindicalistas brasileiros permaneceram no país. Até sexta-feira, deve ser decidida uma ação conjunta de protesto entre funcionários da montadora no mundo todo. A companhia também anunciou 20 mil demissões na Europa.

Nenhuma reação ao anúncio de reestruturação da Volkswagen foi definido ainda, mas Feijóo disse que o objetivo comum é preservar os postos de trabalho. "Com um objetivo, cada um faz ações à sua maneira. Se pudermos fazer ações em comum, melhor ainda."

No dia 15, o sindicalista vai ao México se reunir com líderes sindicais de outros países. A possibilidade de uma greve mundial ainda é sonho, mas, segundo Feijóo, "é um sonho que gostaria de ver realizado."