Gilberto Gil se queixa de preconceito da imprensa

São Paulo, 10 (AE) – Em um discurso veemente hoje à tarde, durante uma aula magna para uma platéia de cerca de 300 estudantes, no auditório da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, queixou-se da maneira como a imprensa tem noticiado o texto de criação da Agência Nacional de Cinema e do Audiovisual (Ancinav). Gil referiu-se, sem citar o nome do veículo, à manchete do Estado de domingo – “Governo quer controlar também internet e celular” – e a uma entrevista com o colunista Arnaldo Jabor, publicada também pelo jornal, na edição de sábado.

“Um grande jornal de São Paulo publicou uma manchete na qual dizia que o MinC quer controlar a internet”, discursou o ministro. “Ora, isso ofende a minha inteligência, a minha história. Sou usuário da internet e defensor do software livre. Todos sabem que fui perseguido pelo governo militar, que tive minha obra censurada. Pode o perseguido tornar-se um perseguidor? Eu não!”, afirmou.

Segundo Gil, a forma de abordagem do jornal – “que publica opiniões pessoais de seus próprios colunistas e editorialistas” – lembraria a estratégia do governo de George Bush nos Estados Unidos, que se nutriu inicialmente de um “bombardeio” crítico para depois afirmar um “pensamento único”. Reclamou da “violência” da assertiva da manchete do Estado.

“O projeto (da Ancinav) tem sido qualificado – ou desqualificado – como stalinista”, prosseguiu. “Mas, entre os tantos detratores, quantos realmente leram as mais de cem páginas do anteprojeto?” De acordo com o ministro, a mídia estaria confundindo regulação com regulamentação e controle e o interesse do projeto seria criar “instâncias de mediação” que assegurem a defesa da sociedade de quaisquer abusos, mas sem se tornarem instrumentos de “imposição”.

Para o ministro, a defesa de uma regulação das emergentes culturas digitais, dos conteúdos audiovisuais e do mercado das indústrias criativas – que movimenta, segundo afirmou, cerca de R$ 15 bilhões anualmente no País – deveria ser objeto de uma ampla discussão da sociedade, mas o que ocorre é que o debate está sendo escurecido pelo preconceito ou por “interesses corporativos”. Gil chegou a falar em fascismo da mídia.

A defesa que o governo Lula faz do software livre, segundo ele, desmentiria as acusações de dirigismo cultural, autoritarismo e xenofobia de que o projeto tem sido acusado. “Isso é ideologia?”, indagou. “Nós estamos praticando a democracia e convidamos todos a praticá-la conosco.”

CONHECIMENTO – A aula magna de Gil tinha o tema Cultura digital e Desenvolvimento e era uma das atividades do projeto Cidade do Conhecimento, criado em agosto de 2001, dirigido pelo professor Gilson Schwartz. Além de Gil e Schwarz, integravam a mesa o reitor da USP, Adolpho Jose Melfi, e o diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA), João Steiner.

A Cidade do Conhecimento é um programa do IEA que promove a criação e o desenvolvimento de projetos por meio de redes digitais colaborativas. Entre os apoiadores do programa, estão o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Secretaria de Estado da Educação e o jornal O Estado de S.Paulo.

Ao final do discurso, de mais de uma hora, o professor Schwartz brincou com Gil e o convidou a pegar um violão e assumir um palco que havia do lado de fora do auditório, ao lado de um telão onde mais estudantes assistiam à palestra, e dar uma aula de “inclusão musical”. Antes mesmo de o ministro terminar o discurso, uma garota na platéia já cantarolava alto: “Vamos fugir, desse lugar, baby!!!”

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