Frustração e indiferença

Como era previsível, mesmo com todas as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, admitindo que a perda dos recursos provenientes da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) ?não era o fim do mundo?, o governo acabou atropelando o acordo feito com a oposição para aprovar a Desvinculação das Receitas da União (DRU), e não sair ainda mais desconjuntado da queda-de-braço travada com tucanos e democratas no Senado.

Em troca da aprovação da DRU, mediante a qual o governo dispõe de total liberdade para aplicar até 20% da receita tributária, foi oferecida a garantia da não-elevação de impostos para compensar a perda da arrecadação de R$ 40 bilhões, em 2008, em face da eliminação do imposto do cheque.

Todo o palavrório de Lula sobre a condução do problema, em determinado momento desautorizando em público o ministro Guido Mantega, que de certa maneira antecipara o plano governamental de buscar os recursos perdidos por meio do aumento da tributação, foi atirado à lixeira com o anúncio do pacote de medidas fiscais compensatórias.

O novo saque a descoberto na aparente segurança com que o governo governa, ou deveria fazê-lo e, em escala mais deletéria, sobre a credibilidade pessoal do presidente da República, inculca na sociedade um misto de frustração e indiferença em relação ao restrito grupo das pessoas que centralizam a administração federal.

Não é possível alimentar outra idéia, quando o servidor responsável pela gestão das finanças nacionais apela para a desfaçatez de avacalhar ainda mais a ópera-bufa, ao lembrar que o compromisso de não aumentar impostos valia apenas para 2007. E, portanto, a promessa do presidente Lula já estava no passado em 2008. É oportuno lembrar aqui um trecho do principal editorial de anteontem do jornal O Estado de S. Paulo: ?Pois o presidente conseguiu baixar ainda mais sua credibilidade, ao assinar, no primeiro dia útil do ano, dois atos de majoração tributária. Mas o triste exercício de autodesmoralização não terminou aí. Nesse quesito, esse governo não se contenta com pouco?.

O pacote de Lula, termo por ele execrado nas profanas homilias quanto à paz de espírito com que pensaria as feridas abertas no Senado, além dos pitos nos ministros esbaforidos em mostrar serviço, pretende aumentar em 0,38 ponto percentual as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e de 9% para 15% a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

A oposição promete encarniçada resistência às intenções do governo no Congresso. Vamos aguardar.

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