Fracasso de Genebra

Nem o tradicional clima da neutralidade suíça e os fluidos humanísticos da Cruz Vermelha Internacional fizeram de Genebra um palco perfeito para o entendimento dos negociadores da Rodada de Doha, ali reunidos no fim de semana. As conversas foram suspensas na segunda-feira sem nenhum avanço e, pior, os altos funcionários internacionais se retiraram trocando farpas mútuas pelo fracasso.

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, disse pela enésima vez que a não-conclusão do acordo pela liberalização do comércio é um sinal negativo da expansão da economia globalizada. Os vários impasses persistentes na Rodada de Doha se acumulam há anos, e não foi desta vez que os encarregados de discutir as relações comerciais entre os 149 países-membros experimentaram a sensação do dever cumprido.

Coube a Peter Mandelson, comissário de Comércio da União Européia, definir em poucas palavras o resultado da reunião de Genebra, ao dizer que todos os participantes se mostraram flexíveis nas negociações, ?exceto os Estados Unidos?, conforme anotou a BBC Brasil. O governo norte-americano acenara com a possibilidade de aumentar o corte dos subsídios pagos aos agricultores nacionais, mas retirou a proposta ao perceber que os demais grupos negociadores não abririam seus mercados, de acordo com a secretária de Comércio, Susan Schwab.

E mais uma vez imperou a vontade do governo do país mais poderoso da Terra, cuja presença hegemônica no comércio mundial não admite a menor contestação. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, numa interpretação comedida e destinada a não forçar a barra em relação a um Tio Sam cada vez mais ranzinza, reconheceu não ser esse o momento certo para apontar culpados, mas voltou a dizer que os subsídios agrícolas anuviaram a perspectiva do diálogo promissor, a princípio estimulado pela própria disposição favorável dos Estados Unidos.

O ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, instado a falar sobre o estado da Rodada de Doha, não deixou por menos: ?A rodada não está morta. Mas eu diria que ela está definitivamente entre a terapia intensiva e o crematório?. Assim sendo, que a terra lhe seja leve…

Voltar ao topo