A inflação projetada pelo coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Paulo Picchetti, deverá encerrar o mês de dezembro com uma alta em torno de 1,30%, configurando-se na maior taxa apurada na cidade de São Paulo desde fevereiro de 2003, quando o indicador fechou em 1,61%. Em 2006, a maior taxa de inflação apurada na capital paulista foi, até o momento, de 0,50%, no mês de janeiro.

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O aumento previsto para a inflação de dezembro contará com a contribuição isolada do grupo Transportes, de 0,74 ponto porcentual, resultante do impacto dos reajustes dos transportes públicos promovidos pelas administrações municipal (ônibus) e estadual (metrô). Somente na tarifa de ônibus, o reajuste, do último dia 30, foi de 15%. Coincidentemente, em fevereiro de 2003, a cidade de São Paulo também havia absorvido um aumento de 17,65% na tarifa de ônibus, anunciado em janeiro daquele ano, o que levou o grupo Transportes, na ocasião, a fechar fevereiro com alta de 4,46%.

Além do impacto dos transportes, o IPC-Fipe de dezembro já tem como certa uma contribuição de 0,08 ponto porcentual dos aumentos promovidos nos preços dos cigarros e de 0,07 ponto de um reajuste, em torno de 9%, estimado para os pacotes de viagens em virtude da proximidade do período de férias. Juntos, esses aumentos farão com que a inflação prevista para este mês inicie com piso aproximado de 0,90 ponto porcentual.

Considerando-se que, ao longo dos últimos meses, a inflação ao consumidor tem oscilado em torno de 0,40% e que o grupo Alimentação deverá pressionar menos o índice, a tendência do reajuste médio do restante dos preços é ficar em torno de 0,30%, o que levará a inflação de dezembro a oscilar entre 1,20% a 1 30%. Na contramão da Alimentação, Picchetti prevê uma maior pressão do grupo Vestuário, por causa da sazonalidade de final de ano.

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O coordenador prevê que, para o fechamento de 2006, o IPC-Fipe alcance 2,80% de variação. Isso porque, no acumulado de janeiro a novembro, o indicador aumentou 1,50%. Ele ressaltou que, apesar do aumento dos preços projetados para dezembro, a inflação continuará num "patamar coerente" com a política monetária do Banco Central e com o dólar baixo.

"Para o final do ano, teremos algumas pressões claras de choques de ofertas e preços administrados, o que não configura uma mudança de tendência", disse Picchetti, acrescentando que, passado este período de aumentos pontuais, os indicadores de preços ao consumidor voltarão ao padrão normal.

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Ele destacou ainda que, embora a média de reajustes de preços em dezembro alcance o maior nível desde fevereiro de 2003, o índice fechado, de 2,80%, previsto para 2006, será bem inferior à taxa de 4,50% apurada no ano passado e levará o período a fechar com o quarto ano seguido de desaceleração do índice.

Cigarros

Os aumentos na passagem de ônibus e nos preços dos cigarros na cidade de São Paulo, em novembro, contribuíram para a alta de 0 42% na inflação medida no município pelo IPC-Fipe. Do aumento de 15% na tarifa de ônibus feito pela Prefeitura, de R$ 2 para R$ 2 30, no último dia 30, 0,49% já foi absorvido pelo indicador do mês passado.

Segundo Picchetti, este aumento refere-se ao único dia de vigência da nova passagem em novembro. O impacto desta variação do ônibus foi de 0,02 ponto porcentual na composição do IPC-Fipe. "O peso do ônibus no orçamento das famílias com renda mensal de 1 a 20 salários mínimos é de 4,40%", disse Picchetti, ressaltando a importância desta tarifa no orçamento do consumidor.

Os cigarros, sozinhos, pressionaram o IPC de novembro em 0,08 ponto porcentual. De acordo com Picchetti, a pressão da tarifa do ônibus dentro do grupo Transportes (alta de 0,21%) e o cigarro dentro de Despesas Pessoais (elevação de 0,76%) ocupou o espaço deixado por Alimentação e Habitação.

Os alimentos reduziram o ritmo de alta, de 1,22%, em outubro, para 1,08% em novembro. Já o grupo Habitação fechou praticamente estável, com uma variação de 0,06%, ante uma alta de 0,43% no mês anterior.

A desaceleração dos alimentos foi motivada basicamente pela folga dos produtos semi-elaborados, que saíram de uma alta de 4 45%, em outubro, para 1,27% no mês passado. No grupo Habitação, o alívio veio do subgrupo Manutenção de Domicílio, que também fechou em 0,06%, depois de ter registrado alta de 0,95% em outubro. Esta menor pressão do grupo, de acordo com Picchetti, decorre da saída do impacto do reajuste da tarifa de água e esgoto do índice.

Além disso, o grupo Transportes contou com uma queda de 0,39% do preço da gasolina, o que compensou o impacto do ônibus no IPC-Fipe de novembro.