Fidel compara posse de Lula à revolução cubana

O presidente de Cuba, Fidel Castro, comparou indiretamente a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à revolução cubana, que completou hoje 44 anos. “Fico feliz por estar novamente no Brasil”, disse ele, na noite de terça-feira, a um pequeno grupo de jornalistas que o aguardavam no hall do hotel onde se hospedou. “E mais feliz porque não detemos mais o monopólio do 1.º de janeiro”, completou, estabelecendo um paralelo entre a data em que, junto com o grupo rebelde que liderou, conquistou Havana em 1959 e assumiu o poder, e o fato de um líder sindical ter chegado à Presidência da República.

A revolução cubana começou em 1933, quando o ex-sargento Fulgencio Batista aproveitou-se do levante popular que derrubou o ditador Gerardo Machado para e assumiu o poder em Cuba, mantido até 1944. Oito anos depois, Batista liderou um golpe de Estado e instituiu a ditadura. Fidel e os rebeldes sob o seu comando atacaram o quartel de La Moncada em 1953, foram presos. Depois de serem libertados em 1955, Fidel se exilou no México e, de lá, organizou o seu retorno a Cuba, instalando-se em Serra Maestra. Ele chegou ao poder em 1.º de janeiro de 1959.

Fidel desembarcou no Brasil por volta das 20h30, na base aérea de Brasília – a sua chegada estava prevista para ocorrer entre 21h e 22h. Por medida de segurança, o governo cubano destacou duas aeronaves para a viagem e a Polícia Federal e os funcionários do Ministério das Relações Exteriores só ficaram sabendo em que avião estava o presidente cubano após a aterrissagem, quando ele desceu as escadas móveis trajando a tradicional farda e usando um tênis.

Da base aérea, Fidel seguiu direto para o hotel. Fidel recebeu vários funcionários da Embaixada de Cuba no Brasil e, em vários momentos, cogitou-se a possibilidade de o presidente ir a uma comemoração no prédio da representação de seu país no Brasil. Pouco antes da meia-noite, os funcionários cubanos deixaram o hotel e a escolta externa da Polícia Federal foi dispensada.

Convidado

Fidel acabou passando o Réveillon na suíte em que está hospedado – os funcionários do hotel e integrantes da sua comitiva não informam qual, tampouco o andar – com um dos fundadores do PT, Frei Beto, que estava acompanhado da sua família e é seu amigo pessoal.

Brindaram a chegada do novo ano com um espumante brasileiro, mas não houve ceia ou lanche. Conversaram durante 1h30. O presidente cubano contou a Frei Beto sobre os avanços sociais de Cuba e lhe mostrou um vídeo, produzido pelo governo daquele país. O encontro só foi registrado pela imprensa oficial de Cuba, que transmitiu as gravações no início da tarde de hoje para aquele país. “Passamos o ano-novo juntos porque somos amigos, ele me perguntou como foi a campanha de Lula e me falou sobre os avanços sociais ocorridos em Cuba, sobretudo na educação e na área de tecnologia”, contou Frei Beto.

Protocolo e carisma

Os compromissos oficiais de Fidel no Brasil começaram no início da tarde de hoje. Ele deixou o hotel às 12h40 para ir à cerimônia de despedida do presidente Fernando Henrique Cardoso, no Itamaraty, mas, antes de entrar no carro, exibiu bom-humor e posou para fotos, a pedido dos jornalistas nacionais e internacionais.

Ao sair do hotel, parou novamente e cumprimentou populares e alguns parentes de Lula, que vieram do interior de Pernambuco para assistir à posse e aproveitaram para ver o presidente cubano, gritando: “El, el, el, Fidel”. Um homem pediu a uma funcionária do Ministério das Relações Exteriores que tentasse convencer os assessores de Fidel a deixar que apresentasse os seus filhos, cujos nomes eram Fidel e Havana. A funcionária do governo brasileiro informou que não seria possível e os seguranças cuidaram para que a área reservada não fosse invadida.

Depois da cerimônia no Itamaraty, o presidente cubano seguiu para o Congresso e o Palácio do Planalto. Em seguida, Fidel retornaria para o hotel e deveria seguir para um recepção oferecida às delegações estrangeiras, no Palácio do Alvorada. Ele e Lula devem almoçar nesta quarta-feira, segundo informou o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. O cerimonial de Cuba, entretanto, admitiu apenas existir a possibilidade do encontro. Mas, como é de praxe quando se trata de Fidel, só confirmam ou não na última hora.

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