FAO pode levar programas brasileiros para combater fome na África e América Latina

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) espera firmar parceria com o governo brasileiro para que, até o fim do ano, os programas de convivência com a seca e de apoio à agricultura familiar por compra da produção, criados no país, ajudem a combater a fome e a pobreza na África e na América Latina.

A afirmação foi feita pelo assessor especial da Presidência da República, José Graziano da Silva, que nesta semana assumirá a coordenação da FAO para América Latina e Caribe. Na segunda-feira (6), ele participou de encontro com o diretor-geral da entidade, Jacques Diouf, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de este embarcar para a Inglaterra.

Segundo Graziano, Diouf destacou para Lula a "necessidade de o Brasil começar a compartilhar suas experiências bem sucedidas" nessas áreas. "Nós ficamos de aprontar e entregar pela FAO, ao governo brasileiro, uma proposta até dentro de um mês".

A idéia de ensinar técnicos de outros países a lidar com a construção de cisternas e outras pequenas obras de convivência com a seca, como as barragens subterrâneas, surgiu de sugestão da FAO, informou Graziano.

Segundo Diouf, 80% dos casos hoje existentes de fome grave no mundo estão relacionados principalmente a secas e também a inundações. "O Brasil é um dos poucos países do mundo que tem uma experiência no semi-árido comprovada de pequenas obras de irrigação", disse Graziano.

A idéia de exportar o programa de compra de alimentos da agricultura familiar busca substituir os alimentos distribuídos em regiões pobres por organismos das Nações Unidas. Muitas vezes, são usados gêneros europeus e americanos e a idéia é distribuir alimentos comprados dos camponeses das próprias regiões auxiliadas pela ONU.

O objetivo é colaborar para o desenvolvimento local. "Isso (distribuir alimentos estrangeiros) gera mais fome do que resolve o problema da fome. Tira empregos e impede o pequeno agricultor de se manter", afirmou.

A maneira de compartilhar esse conhecimento brasileiro, segundo Graziano, deve ser por meio de um sistema de bolsas a profissionais recém-formados de áreas como Agronomia e Zootecnia. Os profissionais deverão ser treinados pela Embrapa Semi-Árido e depois seguir para os países da América Latina e da África. O objetivo é que isso já ocorra neste ano, segundo Graziano, e um dos primeiros países a receber esse suporte deve ser o Haiti.

O assessor especial também considerou que a presença na Conferência em Porto Alegre é, sim, representativa. Nos últimos dias, movimentos sociais questionaram o fato de haver pouco mais de 80 países representados no encontro, quando a FAO tem mais de 180 países membros.

Graziano explicou que, dos mais de 180 países, menos de 110 são efetivos atualmente, participando e votando nas reuniões. Ele disse ainda que a reunião anterior da FAO teve presença de pouco mais de 40 países.

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