Começou. Aos primeiros raios do sol, como em todo duelo que se preza, Kid Baby Bush sacou primeiro. Híbrido de caubói com Rambo, apresentou um “aperitivo” de suas armas: 40 bombas sobre Bagdá, sendo uma de 1 tonelada, supostamente sobre QGs do alto comando iraquiano e possíveis esconderijos do oponente, a chamada Operação Decapitação. Do outro lado, com a cabeça bem firme sobre o pescoço, Saddam Hussein ungiu-se como representante agredido da “grande nação árabe”, conclamou seu povo para a luta, prometeu resistir.

Assistimos aos primeiros lances de uma guerra surreal, desencadeada pelo desejo de um único homem (o poodle Tony Blair e o pinscher José María Aznar são café-com-leite), que mobiliza centenas de milhares de soldados e sua colossal máquina de guerra contra outro único homem. E à revelia do que pensam aliados importantes e a maioria esmagadora da humanidade.

OK, já foi dito e repetido à exaustão que Saddam também não é flor que se cheire, é um ditador sanguinário, etc. e tal, da mesma forma como já foi repisado que outros tiranos contaram não só com a condescendência, como também com o apoio político e financeiro do Tio Sam, para que pudessem cometer suas atrocidades sem ser incomodados.

Mas o bizarro é o fato de não ser uma guerra, mas um duelo. E absurdamente desigual. Se quisesse, Bush poderia esmagar Saddam Hussein “como um inseto” (como gostam os americanos), num único lance. É evidente porém que ele não será estraga-prazeres a esse ponto. Vai querer justificar a gigantesca mobilização militar, experimentar seus brinquedinhos e oferecer um pouco de diversão aos seus bem-nutridos soldados.

E quem paga a conta? Primeiro, os desgraçados civis iraquianos, que há mais de vinte anos lutam para sobreviver às encrencas arrumadas por seu líder e ao castigo imposto pela ONU. Em seguida, os pobres-diabos do exército do Iraque, que têm três opções: ou se resignam ao papel de bucha de canhão, ou se humilham ao inimigo ou enfrentam o fio da espada do próprio comandante. Os países vizinhos, que vão precisar se virar com hordas de refugiados. E por último, o mundo inteiro, pelos arranhões nas relações das grandes potências, pelo esfacelamento da ONU, as turbulências no comércio do petróleo e pela insegurança em relação ao “próximo alvo” do caubói. Sem falar que Baby Bush já avisou que os “amiguinhos” que não quiseram participar da brincadeira vão ter que ajudar a limpar a sujeira e a consertar o que foi quebrado.

E o pior é que momentos antes de Bush dar o primeiro tiro, aqui no Brasil o jornalista Francisco Adorno apresentava no Jornal da Cultura a singela solução. Da mesma forma como a guerra se resume à luta de um homem contra outro, um único homem poderia ter evitado o conflito: João Paulo II. Se ao invés de rezar pela paz, o sumo pontífice tivesse ido a Bagdá, não para servir de escudo humano a Saddam Hussein, mas para proteger o povo iraquiano, o “devoto” Baby Bush ficaria num mato sem cachorro. Seria uma aula prática dos ensinamentos cristãos, o exemplo máximo de tolerância, coragem e desprendimento, e a oportunidade para encerrar o seu pontificado com chave de ouro. Pena que agora é tarde.

Luigi Poniwass (luigi@pron.com.br) é repórter do Almanaque em O Estado.

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