Exclusão social

De 1960 a 1980, a exclusão social no Brasil caiu 13,6%, um resultado positivo e de se aplaudir, não fossem demasiados os excluídos. No início dos anos 60, o País apresentava 49,3% de excluídos, praticamente a metade da população. Vinte anos depois, esse percentual havia caído para 42,6%, sem dúvida uma conquista, mas longe de ser uma vitória expressiva. No ano 2000, o percentual de excluídos chegou a 47,3% da população brasileira. Não há que se criticar governos, mas diagnosticar um problema grave, a fim de orientar as políticas governamentais. Eles constam do segundo volume do Atlas da Exclusão Social no Brasil, um trabalho feito por especialistas, como Márcio Pochmann, Ricardo Amorim e Ronnie Silva. O retrocesso na redução do número dos socialmente excluídos é relevante. Mais importante, entretanto, são as causas desse fenômeno de involução da sociedade brasileira.

Os autores apontam como causa do aumento do índice o surgimento de um novo tipo de exclusão, para o qual precisamos estar atentos, para que não se desenvolvam políticas equivocadas que o desprezem e, por isso, não logrem a inclusão social desejada. Apontam o aparecimento de um novo tipo de exclusão, relacionado à violência e ao emprego, que se soma à velha exclusão que sempre esteve ligada aos problemas de falta de educação e pobreza.

O estudo dá como exemplo da velha exclusão a cidade de Guaribas, no Piauí, onde a maioria da população é pobre. E refere-se à nova exclusão como um fenômeno que acontece nas grandes cidades, como São Paulo e certamente também Rio de Janeiro, e em menor medida em Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e até Curitiba. Nessas grandes cidades a população pobre, submetida ao desemprego e à violência, convive lado a lado com os mais ricos, criando um ambiente de fricção muito perigoso.

Mário Pochmann, que é secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo e um dos organizadores da pesquisa, afirma que existem relações evidentes entre os índices de desigualdade e a violência. A ostentação nas grandes cidades daquilo que as populações mais pobres não têm funciona como um estímulo ao aumento da violência. Interessante notar, também, que entre 1960 e 1980 os excluídos eram, em maioria, migrantes da zona rural com família numerosa. Tinham baixa escolaridade e renda, eram na maioria mulheres e negros. De 1980 ao ano 2000 esse perfil mudou. Os excluídos passaram a ser predominantemente pessoas nascidas nos grandes centros urbanos, de famílias pequenas, escolarizadas, desempregadas, na maioria homens e brancos. Isso indica que a exclusão social atingiu também setores da antiga classe média.

“Estamos diante de uma exclusão mais difícil de combater. É mais fácil combater o analfabetismo e a pobreza do que a violência e criar novos postos de trabalho”, é a opinião de Márcio Pochmann (PT).

A pesquisa contida no Atlas da Exclusão Social leva a repensar os programas governamentais, inclusive e principalmente o Fome Zero, quando o governo o coloca em primeiro plano e posterga recursos para o setor educacional e o de geração de empregos. É evidente que os problemas do Brasil e a inclusão de quase a metade de sua população são um grande e complexo desafio. Mas, diante da escassez de recursos, é preciso estabelecer prioridades e, dentre elas, ressaltam que a educação e o emprego vêm antes dos programas assistenciais.

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