Ex-tesoureiro do PT diz que Genoino não participou na escolha do avalista

Brasília (AE) – O secretário nacional licenciado de Finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares, afirmou que a direção do partido "sabia da decisão de tentarem obter empréstimo para cobrir saldo negativo da conta do partido". Delúbio declarou à Polícia Federal (PF) que "José Genoino (presidente nacional da legenda afastado) concordou que fosse obtido o empréstimo (com o banco BMG, no valor de R$ 2,4 milhões), mas não teve nenhuma participação na escolha do avalista ou da instituição financeira que iria conceder o crédito".

O ex-tesoureiro do PT admitiu que os dirigentes do BMG lhe foram apresentados pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do "mensalão", fiando-se nas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). "Realmente o PT deixou de saldar uma das parcelas do empréstimo, acarretando a responsabilidade do avalista", disse Delúbio.

O empréstimo tomado no BMG foi feito "para cobrir um saldo negativo" decorrente de despesas efetuadas pelo PT na transição do governo e na cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Delúbio, o BMG "apresentou as melhores condições de taxa dentre os bancos pesquisados".

Um dos avalistas foi Valério, que, em julho de 2004, saldou uma prestação no valor de R$ 350 mil, referente a taxa de juros cobrada em contrato. Delúbio disse ainda que pediu a Valério para ser o avalista, uma vez que ele possuía o "patrimônio necessário" para dar garantia à operação. "O pagamento da parcela de juros por Valério não foi contabilizado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)", revelou Delúbio. "O pagamento da parcela de juros não constava do extrato da conta aberta pelo PT junto ao BMG", explicou.

O ex-tesoureiro também confirmou outro empréstimo, de R$ 3 milhões junto ao Banco Rural, concedido em maio de 2003. Ele declarou à PF que possui "como patrimônio uma conta bancária no valor de R$ 163 mil". Delúbio disse que em 2004 o PT contabilizou uma receita de, aproximadamente, R$ 49 milhões e gastos de R$ 68 milhões, chegando a um déficit de cerca de R$ 20 milhões. Ele contou também que conheceu Valério em 2002, "na época da campanha eleitoral para Presidência da República". O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) o apresentou a Valério. "Ele (Valério) me foi apresentado como um grande profissional do ramo publicitário."

No início de 2003, declarou Delúbio, o publicitário "passou a coordenar a campanha da candidatura do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para a presidência da Câmara". Ele disse que "sempre discutia com Valério a respeito da imagem do PT perante a sociedade". "Eu falava com o Valério uma ou duas vezes por semana, sempre para tratar de assuntos relacionados a política e conversas entre amigos." Delúbio também confirmou reunião com dirigente do banco Opportunity. "Participei de um encontro com Valério e o empresário Carlos Rotemburgo, (um dos sócios) do Opportunity, que solicitou uma aproximação com o PT para melhorar a imagem do grupo."

Encontros – Delúbio disse ter visitado a Usiminas com Genoino e Valério. "Já me encontrei com Valério em hotéis de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Não tenho idéia de quantas vezes encontrei-me com Valério no Blue Tree de Brasília. Costumo marcar encontros em cafés da manhã que podem ser tanto no restaurante como no apartamento dos hotéis. Já me reuni com Valério em quartos de hotéis." A maioria dos encontros com Valério, disse, ocorreu nos diretórios do PT em São Paulo e em Brasília.

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