Derrotado em sua última queda-de-braço com o governo brasileiro, o presidente da Bolívia, Evo Morales, terá hoje uma chance para adotar uma agenda positiva na negociação das pendências com o Brasil, durante sua primeira visita oficial a Brasília. Nos últimos dois dias, Evo tentou converter o encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em objeto de barganha, ao impor como condição o aumento do preço do gás natural fornecido ao Brasil.

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Como ocorreu nas tentativas anteriores, a pressão de Evo por uma decisão política do governo Lula sobre o preço do gás natural não surtiu efeito. Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, instruiu o embaixador brasileiro em La Paz, Frederico Araújo, a reiterar ao governo boliviano que o Brasil não aceitaria condições e a negociação sobre gás natural continuaria na esfera técnica da Petrobras.

A mensagem foi clara: se Evo mantivesse suas condições, melhor seria cancelar a visita. Sua vinda ao Brasil acabou confirmada às 12 horas de ontem (14 horas de Brasília). ?Paciência tem limite?, disse uma fonte do gabinete de Amorim, que ressaltou a falta de habilidade diplomática do governo boliviano.

A estratégia de La Paz quase pôs a perder o pacote de cooperação preparado para selar o evento. Por muito pouco, a atitude de La Paz deixou de inflamar a animosidade criada entre os dois países desde que Evo Morales nacionalizou o petróleo e o gás natural, em maio de 2006.

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O presidente da Bolívia desembarcará nesta manhã para uma visita de poucas horas. Terá um encontro reservado com Lula às 11 horas no Palácio do Planalto, seguido de uma reunião de trabalho com ministros dos dois governos. Lula oferecerá um almoço a Evo no Itamaraty e juntos assinarão oito acordos de cooperação – sobre controle da febre aftosa, aproveitamento do Rio Madeira, fluxos imigratórios e outros nas áreas agrícola e de defesa.

Antes de retornar a La Paz, Evo terá um encontro, no Congresso, com os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia, e do Senado, Renan Calheiros. A visita deverá ser retribuída, até o fim deste ano, com uma viagem oficial do presidente brasileiro a La Paz.

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Apesar de resistir à discussão sobre o preço do gás natural, Lula deverá tratar ?de uma maneira mais ampla? da produção e exportação desse insumo com Evo Morales, como informou uma fonte do governo. Mais pobre entre os países da região e com uma fronteira de 3 mil quilômetros com o Brasil, a Bolívia terá a promessa do Planalto de que antigas propostas sairão da gaveta.

Entre essas propostas estão os investimentos adicionais da Petrobras na produção de gás, o financiamento brasileiro a um projeto de pólo gasoquímico na fronteira, a ampliação do gasoduto Brasil-Bolívia e crédito para a exportação de máquinas agrícolas brasileiras ao país vizinho. Nesta semana, o governo brasileiro incluiu no pacote a possível construção de uma hidrelétrica binacional no Rio Madeira, na fronteira entre Bolívia e Rondônia.