Estrutura no chão

Indo a Belo Horizonte depois de anunciar a suspensão das licitações em andamento no Ministério dos Transportes, o ministro Anderson Adauto disse ao governador mineiro Aécio Neves que seu primeiro passo, antes mesmo de começar a trabalhar, é “jogar no chão toda aquela estrutura (o Departamento de Infra-Estrutura de Transporte – DNIT), que eu não sei se é viciada ou não”. Aduziu que desmontará o órgão para, em seguida, remontá-lo com preocupação ética e moral e, somente depois, começar a trabalhar. E isso já aconteceu. Ontem, toda a diretoria do monstrengo foi afastada e o ministro deu início à reconstrução da agência.

O pouco conhecido nome DNIT é o sucessor do DNER, desmontado não faz muito tempo em meio a denúncias, até hoje não todas esclarecidas, de corrupção e malversação do dinheiro público. O governo de Fernando Henrique Cardoso, inspirado sabe-se lá em quem, preferiu fechar e criar uma nova estrutura, assim como aconteceu com a Sudam e a Sudene – esta última agora em fase de ressurreição, pelas mãos do nordestino ministro e candidato derrotado à Presidência Ciro Gomes. Veio então o ministro Adauto afirmar que a mudança de sigla não resolveu nada e, com certeza, tem razão, pois, como sempre aqui afirmamos, o problema não está no nome e, sim, nos homens.

A remontagem do departamento, entretanto, não seria motivo suficiente para o prolongamento dessa paralisia que há tanto tempo toma conta do Ministério dos Transportes, enquanto a situação de nossas estradas clama por medidas urgentes de norte a sul. O que está no chão, de fato, são as estradas, cada dia mais esburacadas e mal-sinalizadas, a aumentar os custos, atrasar entregas e a exigir um preço muitas vezes pago com a vida de motoristas e passageiros.

Segundo se anuncia, o cancelamento sine die dos processos de cerca de 60 concorrências públicas, implica numa “economia” de aproximadamente cinco bilhões de reais, que seriam canalizados para obras de recuperação da malha viária existente. O ministro Adauto, reconhecendo que não é do “meio rodoviário”, justificou a medida como necessária para provar para a sociedade (e para o governo disso ter segurança) que o dinheiro que for canalizado ao setor produzirá os efeitos desejados. “Antes de liberar os recursos, temos de ver se as pessoas que ali estão são efetivamente pessoas corretas, em condições de executar um serviço dentro da lógica do novo governo”, sentenciou o ministro dos Transportes.

A conversa é boa, mas dentre os processos cancelados estão obras de extrema importância, incluindo a recuperação de estradas que se encontram em situação de emergência, pela hora da morte. O adiamento não se faz em função da inexistência de verbas, mas em nome de uma estrutura que, sem a devida investigação, se diz viciada. Daí faz sentido o que afirmou o presidente nacional do PSDB, deputado José Aníbal, para quem isso tudo é apenas uma forma de “o governo do PT fazer fumaça e levantar poeira”. A mesma poeira que provocou a medida de Ciro Gomes, no Ministério da Integração, ao suspender todos os pagamentos sem justificativa alguma.

Isso tudo pode funcionar muito bem para a produção de discursos ou para reacomodar interesses, como os do governador mineiro. No caso das estradas sucateadas Brasil afora, entretanto, discurso não conta. É preciso colocar mão na massa e trabalhar. Ou o Brasil pára.

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