Estratégia da oposição a Chávez é gerar violência, diz analista

Gerar violência. Essa é a estratégia da oposição ao presidente Hugo Chávez para criar uma situação de caos na Venezuela e, dessa forma, tirá-lo da presidência, disse o diretor do Instituto de Estudos Hispano-Americanos da Universidade Central da Venezuela (UCV), Germán Yépez. 

Ontem, pelo menos duas pessoas morreram e várias ficaram feridas quando a Polícia Metropolitana e soldados da Guarda Nacional foram obrigados a usar bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar governistas e manifestantes da oposição que tentavam se aproximar do Forte Tiuna, principal base militar de Caracas e sede do Comando Geral do Exército.

“Os grupos de oposição acreditaram que, em 15 ou 20 dias de greve e de paralisação da indústria petrolífera, Chávez cairia. Mas, vendo que essa estratégia não deu resultado, estão tentando gerar situações de violência”, afirmou o professor, em entrevista à Agência Estado, por telefone, de Caracas.

Yépez acredita que a greve, embora parcial, começa a se esvaziar, razão pela qual a oposição a Chávez vem mudando a sua estratégia. De acordo com o professor, se o plano para derrubar Chávez não der certo, a idéia é enfraquecer e prejudicar a sua imagem, caso a saída para a crise institucional e política seja a antecipação de eleições.

“Acredito ainda que esses grupos vão tentar organizar uma marcha ao Palácio de Miraflores, o que seria um grave equívoco, já que o risco de um confronto seria inevitável”, explicou.

Depois de percorrer várias cidades, Yépez contou que a paralisação no interior do país é bem menor do que a que está ocorrendo em Caracas. Apesar disso, acrescentou o professor, “alguns grupos, apoiados pelos meios de comunicação, insistem em manter a greve”.

Os custos dessa paralisação da indústria petrolífera, que já dura 32 dias – dois dias a menos do que a greve convocada pelos grupos de oposição – chega a US$ 6 bilhões, de acordo com a Stratfor, empresa norte-americana de análises estratégicas. Um informe dessa empresa põe em dúvida as afirmações, tanto do governo como dos grevistas, sobre a possibilidade de normalização das atividades da Petróleos de Venezuela S. A.(PDVSA) em 45 ou 60 dias. A Stratfor afirma que a greve provocará danos de longa duração na capacidade de produção, credibilidade e solvência financeira da companhia e de suas subsidiárias internacionais.

“A PDVSA, provavelmente, demorará anos para recuperar a sua condição exportadora rentável, eficiente e confiável”, diz o informe, citado pelo jornal espanhol El Mundo. Por causa da paralisação da estatal, a segunda maior do mundo, a Venezuela está importando gasolina do Brasil (520 mil barris), Trinad e Tobago (400 mil barris) Estados Unidos, Rússia e de outros países.

Ainda de acordo com esse informe, as perdas por causa das exportações de petróleo não cumpridas já somam US$ 1,5 bilhão (cerca de US4 50 milhões por dia) e podem passar de US$ 3 bilhões se a greve se estender até fevereiro. Pior, essa cifra pode dobrar se a Venezuela decidir usar as suas reservas de investimentos de US$ 2,5 bilhões que se encontram depositadas no fundo de estabilização macroeconômica.

O El Mundo informa ainda que o relatório da Stratfor alerta sobre os efeitos da falta de petróleo nas refinarias da PDVSA no exterior, principalmente nos Estados Unidos, entre elas a Lyondell-Citgo, em Houston, que estaria operando com menos da metade de sua capacidade, de 275 mil barris diários. A Stratfor afirma também que, quanto mais prolongada a greve, mais cara e lenta será a recuperação da produção de petróleo e da credibilidade da PDVSA como “fornecedor confiável”.

Apesar de todos esses riscos, o governo venezuelano e os grevistas da companhia não deram sequer um passo atrás na tentativa de resolver o impasse. Chávez, que esteve no Brasil esta semana, disse ter voltado a Caracas com “renovado apoio internacional”. Para ele, nenhum democrata pode aceitar chantagem de quem quer que seja.

Afirmou também que não está disposto a destinar parte dos recursos do orçamento do país para uma eventual antecipação de eleições. “Não temos dinheiro nem para pagar salários, como então usá-lo para um referendo que nem sabemos se é legal”, disse ao sair do encontro ontem com o secretário geral da Organização de Estados Americanos (OEA), César Gaviria, no Palácio de Miraflores.

Chávez afirmou ainda que quem se recusar a pagar impostos estará cometendo crime, passível de prisão.

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