Estradas e picadas

Uma boa notícia, enfim, para o combalido setor rodoviário paranaense: devem ser iniciadas, ainda no decorrer deste mês de abril, as obras de restauração e conservação das estradas federais que cortam o território do Paraná. O governo federal atendeu – segundo noticiamos recentemente – aos insistentes pedidos do governo estadual. Segundo se anuncia, obras serão desenvolvidas ao longo de trinta e seis trechos de estradas federais, totalizando 1.440 dos 3.500 quilômetros de BRs em nosso Estado.

As obras avaliadas em cerca de vinte e seis milhões de reais, segundo explica o secretário estadual dos Transportes, Waldyr Pugliesi, fazem parte de um plano de ação emergencial e os trechos que já possuem contratos serão atacados imediatamente. Os demais entrarão em processo de licitação logo. De dois tipos serão os trabalhos: os de conservação das estradas, que ficariam prontos dentro de no máximo quatro meses, e os de restauração, contemplando os 285 quilômetros em pior estado, as picadas, que poderão levar até um ano.

O secretário Pugliesi gaba-se que o assentimento do governo federal à reivindicação apresentada pelo Paraná foi positivo ante o bom relacionamento do governador Roberto Requião com o presidente Lula. Além disso, teria pesado o argumento de que é imperioso ajudar no escoamento da safra deste ano – um processo que já se encontra em meio caminho e que, dependendo, pode até ser prejudicado com interrupções e bloqueios inevitáveis do tráfego.

Nesse “atendimento preferencial”, segundo se noticiou, estaria incluída até a Estrada da Ribeira, cujas obras de pavimentação paralisadas estão atraindo a sempre galhofa ironia do prefeito Élcio Berti, de Bocaiúva do Sul. Ele toparia abrigar o chefe de gangue Fernandinho Beira-Mar por uns tempos (“nós damos um jeito nele”) em troca de 10% de todos os especiais cuidados a ele dispensados. Com tanto dinheiro, calcula: pavimentaria a estrada, arrumaria a ligação com Cerro Azul e, de quebra, dispensaria a ajuda do Fome Zero, prometida por Requião recentemente. “Nós precisamos de infra-estrutura para poder trabalhar e movimentar nossas riquezas, nossos minérios; não de ajuda ou caridade”.

Ora, essa é mais ou menos a situação do resto do Paraná. Onde não tem pedágio, as estradas – sejam federais ou estaduais – estão pela hora da morte. Pequenos reparos em inevitáveis buracos e depressões, conservação geral das pistas e acostamentos, e roça do mato que invariavelmente encobre placas e sinais, deveriam ser obra de rotina, houvesse um pouco mais de zelo do governo pelas coisas de uso público entregue a seus cuidados. Não há favor algum, pois, na promessa transmitida a Pugliesi pelo Ministério dos Transportes. A obrigação de atender o Paraná poderia ficar por conta, também, dos mais de 1.800 quilômetros pedagiados, ao longo dos quais o governo federal não gasta um tostão, nem com eles tem algum tipo de preocupação.

Aliás, está faltando aqui a notícia do que será feito com o valor exorbitante das tarifas dos pedágios. Foi promessa de campanha, e o governador Requião reafirmou, faz pouco tempo, que sua preocupação principal é cumprir todas as promessas. Os viandantes paranaenses todos estão esperando.

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