Esquerda francesa analisa modelo de governo Lula

Depois dos muitos anos em que a esquerda brasileira, moderada ou radical, sempre procurou se organizar espelhando-se em modelos externos, agora, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, parece ocorrer o inverso. A esquerda européia, especialmente a francesa, indaga até que ponto “existe um modelo brasileiro para a esquerda”. Isso porque o presidente Lula conseguiu constituir um governo que reúne, num amplo leque de forças políticas, desde integrantes da esquerda radical, os movimentos trotskistas, até os sociais-liberais.

O jornal Le Monde trata do tema, lembrando que isso acontece no momento em que se discute na França a questão das alianças e mesmo de uma candidatura única à Presidência da República, fato que divide a atual oposição de esquerda. Atravessando uma difícil fase de reconstrução depois da inesperada derrota presidencial do ano passado, os dirigentes do Partido Socialista, órfãos de uma grande liderança, querem saber se a esquerda francesa pode tirar lições do já chamado “modelo brasileiro”.

Esse debate torna-se público uma semana antes da viagem de Lula a Davos, Berlim e a Paris, e no dia da partida para Brasília do primeiro secretário do PS francês, François Holande, que tem audiência com o presidente brasileiro no Palácio do Planalto.

Ruptura

O resultado da eleição brasileira constitui, segundo o jornal, um argumento político importante para a esquerda mais radical francesa. O deputado Jean Christophe Cambadelis, ex-trotskista (lambertista), inventor do conceito de “esquerda plural”, hoje próximo do moderado ex-ministro da economia Dominique Strauss Khan, critica o candidato a presidente da Liga Comunista Revolucionária (LCR), Olivier Besancenot, que só admite participar de um governo de esquerda desde que faça parte do programa a ruptura com o capitalismo, rejeitando a política de alianças com outras forças. No Brasil, segundo ele, Lula conseguiu formar um governo que na França iria do LCR aos liberais, passando pelos sociais-democratas.

Cambadelis não esconde que a receita brasileira para a recomposição da esquerda na França deve ser meditada, convencido que “o caso Lula constitui uma interrogação para toda a esquerda francesa e notadamente para a extrema esquerda”.

O primeiro secretário do PS francês, François Holande, prefere não falar em “modelo brasileiro”, comparando a estratégia utilizada por Lula à de François Mitterrand, quando da vitória da aliança de esquerda na França, em 1981. A secretaria nacional do PCF, Marie George Buffet, rejeita essa idéia, considerando o modelo brasileiro intransportável para a França: “Jamais poderemos ter um negócio desse tipo na França”.

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