Na sua tradicional e aplaudida verborragia, o presidente Lula chegou a dizer, antes das eleições de 2002, que começaríamos a apreciar o ?espetáculo do crescimento? econômico. Nada disso aconteceu. Muito pelo contrário, pois os índices de desenvolvimento, o crescimento do PIB e os comparativos entre o que estávamos conseguindo e o que alcançavam países da América Latina, do chamado mundo em desenvolvimento e as nações em geral nos mostravam que caminhávamos lentos como lesmas, ou como rabo de cavalo, para baixo. Agora, entretanto, já se anuncia que o ?milagre do crescimento? começa a dar sinais. E sinais tão claros que não é preciso provas de São Tomé para crer.

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O inglês Financial Times, considerado um jornal sério e especializado, apreciado e respeitado em todo o mundo, acaba de publicar matéria dizendo que o Brasil está tendo a oportunidade de afastar sua imagem de vagão lento do ?Bric?, grupo das quatro economias em rápido desenvolvimento. Desse grupo fazem parte também a Rússia, a Índia e a China. Os números do crescimento do segundo trimestre do Brasil deverão chegar a 5,5%, diz o jornal. O IBGE acaba de anunciar que foi de 5,4% em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso é mais do que o dobro do que alcançamos nos últimos quinze anos.

Enquanto Rússia, China e Índia há muito tempo têm conseguido crescer mais depressa que os demais pares do mundo desenvolvido, o Brasil tem a tradição da lentidão. E mesmo quando registra crescimento, este é menor do que o apregoado. Estimativas indicam que o nosso crescimento está atingindo 6,9%, segundo o Financial Times, comparado com os minguados 3,7% do ano passado. O IBGE prevê 4,71%.

É hora de aplaudirmos. Aplaudir o Brasil e não somente o seu governo, pois o comportamento da economia não depende apenas do poder público e de suas ações. Estas influem, mas costumam mais atrapalhar do que ajudar.

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Há, apesar dos bons números que são anunciados, uma preocupação crescente em relação ao retorno das pressões inflacionárias. Elas já aparecem e começam a afligir em especial as classes de menor renda, pois são maiores no setor de alimentos. E comer é o item primeiro e mais importante do orçamento de quem ganha pouco.

O governo tem repetido que está atento ao ressurgimento da inflação em níveis indesejáveis. Mas para contê-la, além de um comportamento mais conservador na fixação da taxa básica de juros pelo Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central, pouco mais tem feito. Resiste, por exemplo, a conter os gastos governamentais. Pelo contrário, tem feito com que eles cresçam, aumentando a máquina burocrática, o que se traduz na criação de ministérios, secretarias e milhares de nomeações, a grande maioria sem concursos públicos.

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Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, testemunha: ?O crescimento está realmente acelerando. As coisas estão parecendo muito boas para os consumidores e em termos de investimento. Vai ser uma surpresa positiva?.

Há crescimento na agricultura, no setor de serviços e na indústria. E é importante no setor de exportações. As empresas a ele dedicadas estão muito atuantes, apesar do problema da queda do dólar em relação ao real, o que diminui o rendimento final das vendas no mercado externo. Não menosprezemos, portanto, estes novos índices de crescimento, apesar dos percalços presentes e previstos para o futuro. Mas é de se insistir que o governo precisa conter o aumento continuado de seus gastos. No mês passado, Brasília anunciou planos de criar 29 mil empregos no setor público no ano que vem e de contratar mais 27 mil pessoas para preencher cargos vagos.

Essa política é irresponsável. Ela pode anular os ganhos de crescimento finalmente obtidos e que, se não são um ?espetáculo do crescimento?, pelo menos não parecem a tragédia dos minguados 3,7% registrados no ano passado.