Esperando por Winona

Winona Ryder teria vez. Estivesse por aqui, não passaria pelo constrangimento da exposição ao mundo de seu “pequeno ensaio de furto” na loja chique de Beverly Hills. Feito o flagrante, a primeira ação de seus advogados seria a de tentar desclassificar o processo. Por falta de clareza em seus propósitos – poderia ser. Ou, no mínimo, por um daqueles eleitoreiros indultos de multas tão comuns por essas plagas.

Tem sido assim em nossa história recente. Aqui no Paraná, especialmente. Quem não se lembra do dia em que aquele deputado inflou os pulmões para anunciar, em alto e bom som, que estavam anistiados todos aqueles motoristas que haviam sido punidos por pardais, andorinhas ou sejam quais forem as denominações que os radares eletrônicos recebam?

E havia gente com saldo pesado de multas acumuladas. Foram zerados, tratados como motoristas exemplares, responsáveis, daqueles que nada deviam. E estes, ficaram como? Não seria o caso de exibirem uma certidão negativa do Detran, exigindo um prêmio por não terem feito nada de errado durante um ano inteiro? Afinal de contas, se o Estado abria mão de tamanha receita, perdoando infratores reincidentes, não seria demais escancarar um pouco mais os cofres para distribuir prêmios aos motoristas bem comportados?

Ah, mas é a indústria da multa – comenta alguém, lembrando a remuneração percentual ao número de infrações registradas pelo serviço terceirizado. É uma tentação perigosa, mas agora está sendo corrigida, para poder também impedir reclamações do tipo “não sabia que ali havia um radar”, que é coisa só para a nossa cara.

No fundo do fundo os radares deveriam ser desnecessários. Bastaria apenas uma placa delimitando a velocidade máxima naquele trecho e pronto. Isso no planeta sonhos, pois em país algum funciona, já que existe, no ser humano, sempre um centelha de infrator pronta a ser acionada. Acontece que lá fora a fiscalização funciona e pode muito bem haver um guarda escondido atrás da árvore, pronto para flagrar a irregularidade. E aí não tem choro, protesto ou o que valha. Paga no ato, em espécie, ou tem o carro retido até conseguir se acertar com a lei.

Aqui não é assim. Placas de sinalização existem, mas é como se não estivessem ali. Quando há radares instalados não basta avisar que eles estão na via (ou na rodovia). É preciso apontá-los – “atenção, aquele carro amarelo depois da curva tem um radar!” -, para que as pessoas reduzam a velocidade bem abaixo do mínimo permitido (por que será que fazem isso, pondo em risco a segurança?), para daí embalarem de novo a níveis acima do permitido. E quando alguém é apanhado por um radar escondido (que acinte contra o povo! – é o que exclamam) brada por seus direitos, contra os abelhudos que decidiram delatar a velocidade de Fórmula 1 em plena via pública – já que as placas de sinalização nunca servem para alertar esse tipo de gente.

Seria o mesmo que a artista hollyoodiana protestar alegando não haver nenhuma placa avisando: “é proibido furtar”. É, Winona Ryder pode aparecer a qualquer momento por aqui.

Luiz Augusto Xavier

é editor de Esportes em O Estado.

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