Então, prova!

Um punhado de brasileiros especiais está em viagem especial nos Estados Unidos e países da Europa para dizer que não é verdade o que o secretário do Tesouro norte-americano, Paul O’Neill, andou dizendo por aí. Gastam dólares já acima dos três reais à unidade e saliva num português mal traduzido ou num inglês pouco articulado. Seguindo um princípio universal do direito, quem deveria provar o que disse é O’Neill. Mas ele acusa e cala. Ou, melhor, gargalha, consciente de que está alargando a desgraça alheia.

O que disse O’Neill? Que chega de emprestar (com os devidos juros e correções) dinheiro para países da América Latina como o Brasil, a Argentina, o Uruguai ou qualquer outro. O que aqui chega de empréstimo, como socorro de emergência, vai – segundo ele – parar em alguma conta secreta nos bancos da Suíça. Isto é: aqui somos corruptos e não tem remédio. Danemo-nos, pois.

Mal o homem falou, e dispararam os indicativos, como se fossem acionados por um gatilho automático. O preço da moeda norte-americana deu um salto de dez pontos percentuais. Depois baixou, mas o estrago já estava feito sobre o enorme estrago dos dias anteriores. Parte dele, causado por corrupção norte-americana da grossa. A história da maquiagem dos balanços contábeis de megaempresas do primeiro mundo derrubou as bolsas como nunca. Mas O’Neill sequer se preocupou com o problema em casa – um enorme telhado de vidro. Segue atirando, convencido de que a melhor defesa é o ataque. Ataque sórdido e covarde.

Não fosse essa paranóia de quem não trabalha e vive de especulação (este é um resumo dessa nova economia globalizada), o secretário O’Neill provavelmente nem existiria. Suas opiniões infelizes estariam reservadas à hora do cafezinho, entre as piadas insossas que entre si trocam os americanos do norte e aqueles do sul. Mas do jeito que as coisas andam, o que ele falou – já dissemos e repetimos – são afirmações que caracterizam atos de verdadeiro terrorismo internacional que nada devem àqueles de Osama Bin Laden, o inimigo número um do governo a que serve O’Neill.

Fazemos aqui eco às observações do candidato José Serra, logo após o governo brasileiro ter avisado a diplomacia americana que O’Neill não será bem-vindo nesse clima que criou: “O mercado americano teve um comportamento fraudulento que levou o País à incerteza econômica e nenhuma autoridade brasileira fez declarações depreciativas”. Ninguém, também, está pedindo a cabeça de Bush por ele estar sob investigação, assim como seu vice, por coisas do mesmo gênero. E teríamos até motivos: a corrupção norte-americana também complica a nossa vida, visto que bagunça os nervosos mercados da atualidade, mas principalmente os mercados situados na parte emergente do Planeta…

Bravatas à parte, o dado objetivo é este: ou o governo norte-americano retira o que disse, pede desculpas e repara o mal que causou, ou prova o que disse, isto é, que o dinheiro emprestado vai parar na Suíça. Se é verdade, nós também gostaríamos de saber quem são os ladrões a que se refere o honrado secretário do Tesouro de Tio Sam.

Voltar ao topo